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ENTREVISTA
OMS lança cruzada mundial pelo consumo de fruta, verdura e legume
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
A ausência de inofensivas alfaces e frutas coloridas na mesa das
pessoas está provocando cerca de
2,7 milhões de mortes a cada ano.
No total, as doenças crônicas não-transmissíveis -a maioria delas
evitáveis ou adiáveis por um consumo maior de frutas, legumes e
verduras- representam 59% das
56,6 milhões de mortes ocorridas
no mundo anualmente.
Os cálculos são da OMS (Organização Mundial da Saúde) e da
Opas (Organização Panamericana da Saúde). Foram justamente
esses cálculos que levaram a OMS,
em conjunto com o Ministério da
Saúde, a lançar nesta semana, no
Rio de Janeiro, um Programa Global de Frutas e Vegetais, dentro
do 3º Fórum Global para a Prevenção e Controle de Enfermidades Não-Transmissíveis.
Em anos anteriores, a OMS já
havia lançado programas globais
visando a redução do número de
fumantes, estimulando campanhas que ofereciam prêmios a
quem deixasse o cigarro. No Brasil, essa estratégia nunca foi adotada. Outro programa global incentivava as pessoas a fazerem
exercícios físicos, seguindo o modelo "Agita São Paulo", que foi
adotado como "Agita Mundo".
No Brasil, a partir da década de
60, as doenças cardiovasculares
passaram a ser a principal causa
de morte entre doenças não-transmissíveis, com 27% dos óbitos no ano passado. O câncer vem
em segundo lugar e deve causar
127 mil mortes em 2003, segundo
a Secretaria de Vigilância à Saúde.
A nova cruzada por frutas, legumes e verduras visa justamente
reduzir esses números. "Há evidências científicas de que essas
práticas alimentares previnem o
câncer, o diabetes do tipo 2 e
doenças cardiovasculares", diz a
médica Lucimar Coser Cannon,
assessora regional de doenças
não-transmissíveis da Opas.
Abaixo, trechos da entrevista que
concedeu à Folha:
Folha - O que a OMS e a Opas sabem sobre o consumo de frutas, legumes e verduras nos países?
Lucimar Coser Cannon - Não há
estudos detalhados sobre cada região ou país, nem sobre suas práticas alimentares. Mas o que se sabe é que se come bem menos que
o desejado. As dificuldades maiores estão nos países mais pobres e
nas populações com menos informação. As piores comidas são as
mais baratas, com mais gordura
saturada e mais açúcar. São calóricas, mas não são nutrientes.
Folha - Se as pessoas não comem
verduras, também não há quem as
produza. Como quebrar esse ciclo?
Cannon- A OMS/Opas está trabalhando em conjunto com a
FAO, órgão das Nações Unidas
para a agricultura e a alimentação.
Essa cooperação prevê o incentivo a esse tipo de agricultura, informação e treinamento de técnicos. Em muitos países, como na
Argentina, há muitas hortas comunitárias dentro da Rede Panamericana Carmen (Conjunto de
Ações para a Redução Multifatorial das Enfermidades Não-transmissíveis), que congrega organizações governamentais e não-governamentais, além de universidades. Partimos do princípio de
que, se houver demanda, passará
haver ofertas, e o acesso será facilitado. Mas cada país está sendo
incentivado a criar sua própria estratégia. No Brasil, como em muitos países, há uma variedade de
frutas, verduras e legumes muito
grande, mas muitas não achadas
em feiras e mercados. Basta adquirir o hábito de consumi-las .
Folha - Nessa cruzada pelos legumes, frutas e verduras, qual quantidade vocês estão sugerindo que
se consuma?
Cannon - Não recomendamos
quantidades, só recomendamos
que comam mais do que comem
agora. Algumas instituições sugerem de cinco a dez porções de frutas, legumes e verduras por dia.
Porção é uma fruta, uma maçã ou
banana, por exemplo, ou uma xícara de verdura crua. Mas não recomendamos um regime exclusivamente "verde", ou vegetariano,
nem sugerimos a substituição de
carnes por verduras. O que a campanha sugere é "encha seu prato
de cor, de frutas, legumes e verduras". A quantidade não importa. O
fórum também recomenda exercícios leves, pois da mesma forma
que os fatores de risco interagem,
ampliando os riscos, atividades
benéficas fazem o mesmo, ampliando os benefícios.
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