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COMPORTAMENTO
Apesar dos salários e dos riscos, candidatos se esforçam para passar pelo vestibular e pela prova de aptidão física
Mesmo com ataques, 7.000 querem ser PMs
ALESSANDRA BALLES
DA REDAÇÃO
O primeiro trabalha das 8h30 às
17h30 e às vezes revisa as matérias
depois que chega do cursinho, à
1h. A segunda parou de trabalhar
em dezembro de 2002 para poder
ter mais tempo de se preparar,
mas não mantém uma rotina com
horários rígidos. O terceiro não
trabalha e segue à risca o tempo
predeterminado de dedicação.
Em comum, esses três vestibulandos da Fuvest têm um sonho:
ingressar na Academia de Polícia
Militar do Barro Branco.
Mas, para atingir essa meta, dos
157.808 inscritos na Fuvest, são as
mulheres que pretendem ser PMs
as que vão enfrentar a maior concorrência: são 76,73 candidatas
para cada uma das 15 vagas. Para
os homens, a disputa também é
acirrada: são 43,54 inscritos para
cada uma das 135 vagas. Como
comparação, em medicina, a relação é 35,43 candidatos/vaga.
Filho de uma funcionária pública e de um ferramenteiro, Roberto Aiello é auxiliar de contabilidade e faz cursinho das 19h às 23h,
na Lapa. Como mora em Sapopemba, na zona leste, só chega à
sua casa à 1h. Aos domingos, vai
ao Cursinho da Poli, em que é bolsista, para o plantão de dúvidas.
Fica lá por cerca de cinco horas.
Nas tardes de sábado, também estuda cinco horas, mas dedica as
manhãs para se preparar para a
prova de aptidão física: nada das
7h às 8h, depois corre e faz exercícios na barra e abdominais.
Além de ser aprovado na Fuvest, para ingressar no Barro
Branco é preciso passar por outras etapas de seleção. Uma delas
é o exame físico, do qual fazem
parte flexão de braços, corrida de
50 metros, abdominais e natação.
Para Aiello, toda a preparação
vale a pena se realizar o sonho que
diz ter desde criança, e nem casos
como os recentes atentados a bases comunitárias da PM, atribuídos ao PCC (Primeiro Comando
da Capital) e que resultaram na
morte de dois policiais militares, o
desanimam: "Quanto mais atentados, mais casos de violência,
maior a minha motivação".
A dona-de-casa Ana da Conceição Frohmut afirma que sua vida
é rezar. "Primeiro rezava para o
meu marido chegar vivo, agora,
para a minha filha ser aprovada e,
se ela for, vai ser a mesma coisa",
diz a mãe de Mariane Frohmut,
20, que pretende seguir a mesma
carreira do pai, PM reformado.
"Quando eu estava na quarta série, a professora perguntou para
todos o que cada um queria como
profissão. Eu disse que seria policial e todos riram, por eu ser mulher e por ser "tampinha"." Mariane tem 1,60 m, a altura mínima
exigida para poder ser aprovada.
"Se eu fosse optar por salário, eu
tentaria medicina, como a minha
mãe queria, mas eu vou escolher o
meu sonho, que é ajudar os outros." Ela diz que não mantém horários rígidos de estudos e que está priorizando a Fuvest. "Se for
aprovada, vou ter um tempinho
para me preparar fisicamente."
José Eduardo de Campos Tenucci, 19, tenta o curso pela segunda vez. Faz cursinho das 7h às
13h e fica na sala de estudos das
14h às 20h. No sábado, estuda por
seis horas e faz curso de redação,
das 18h às 19h30. O domingo é para a prática dos treinos físicos.
Tenucci diz que os amigos estranham ele estudar tanto para
ser PM, uma carreira tão arriscada. "Perguntam se eu não tenho
medo de morrer. Eu acho que, se
eu ficar aqui no sofá, vou morrer
de qualquer jeito, então que eu
morra fazendo algo de que goste."
De 2000 a setembro deste ano, 128
PMs morreram em serviço, segundo estatísticas oficiais da Secretaria da Segurança Pública.
Colaborou ANDRÉ NICOLETTI, da Reportagem Local
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