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IMAGEM MANCHADA
Governos estrangeiros fazem extensa lista de recomendações a viajantes sobre riscos nas grandes cidades
Brasil é visto como destino turístico perigoso
ÉRICA FRAGA
DE LONDRES
Se você está planejando visitar o
Brasil, tome muito, mas muito
cuidado. Em linhas gerais, essa é a
mensagem passada pelos governos de alguns dos principais países desenvolvidos nos alertas que
fornecem aos turistas que pretendem viajar para grandes cidades
brasileiras, como Rio e São Paulo.
Tráfico e uso crescente de drogas, violência sexual, assalto a
mão armada, roubos em táxis, seqüestros relâmpagos, indivíduos
que apóiam organizações terroristas e vários tipos de golpes.
Esses são alguns dos problemas
citados nas páginas de orientação
aos turistas, mantidas por ministérios de relações exteriores de
países como França, Reino Unido, Austrália, Canadá e EUA.
Embora nem o Brasil nem nenhuma cidade do país conste das
relações de lugares que não devam ser visitados elaboradas pelos ministérios, a lista de possíveis
perigos no país chama a atenção
pela sua extensão e diversidade.
Em alguns casos essas listas até
aumentaram. Cópia da página da
internet do governo britânico de
setembro de 2002, obtida pela Folha, mostra que não se falava em
violência sexual no país naquela
época. Já a página atual diz que algumas "agressões sexuais têm sido registradas em áreas turísticas
costeiras". O governo da Austrália
apresenta a mesma advertência.
O governo britânico também
passou a destacar o perigo de incidentes, mesmo em destinos que
"pareçam seguros". Nas páginas
de alguns países, os seqüestros relâmpagos passaram a ser citados.
Rio
O Departamento de Estado norte-americano passou a falar, em
sua página, de indivíduos que
apóiam, financeiramente, organizações terroristas. Em relação ao
Rio, alerta para os possíveis problemas decorrentes de tentativas
de "chefões das drogas encarcerados para exercer seu poder".
Um funcionário do governo
francês disse à Folha que, de forma geral, o conteúdo das instruções dadas aos turistas que planejam ir ao Brasil não mudou
-mas o tom, sim. Ele explica que
o governo tem a obrigação de
transmitir aos cidadãos a "percepção do aumento da violência".
Essa mudança de tom é percebida logo no parágrafo de abertura
dos chamados "conselhos gerais
de segurança", que destaca, em
negrito: "Uma grande prudência
é, de agora em diante, requerida
dos viajantes que forem ao Rio."
São Paulo também tem seu quinhão de perigos, segundo os sites
internacionais. O governo dos
EUA afirma que há "registros regulares de jovens mulheres que
jogam sedativos nas bebidas dos
homens para roubarem todos os
seus pertences enquanto eles estiverem inconscientes".
Os governos também fornecem
conselhos práticos. Pedem que
viajantes não reajam em caso de
roubo, ressaltando que o agressor
pode estar armado, e orientam até
sobre a quantia de dinheiro aceitável para um assaltante.
"Não estamos dizendo para as
pessoas não irem ao Brasil. A intenção é pedir que sejam mais
cautelosas", disse um porta-voz
do Ministério de Relações Exteriores da Grã-Bretanha, que diz
em sua página que a maior parte
das idas ao Brasil ocorre sem problemas.
"The Independent"
As orientações aos turistas refletem, segundo analistas, a percepção do problema crescente da violência no país pelos governos, organizações e órgãos de imprensa
estrangeiros. Uma medida dessa
visão foi dada, na última semana,
por uma reportagem do jornal
britânico "The Independent" sobre o Rio, cujo título era "A cidade
da cocaína e da carnificina".
"Muitas vezes quando ouvimos
falar algo do Brasil em outros países, pensamos "não é bem assim".
Mas esse artigo do "Independent"
mostra uma realidade", diz Francesco Panizza, professor da LSE
(London School of Economics
and Political Sciences), especializado em América do Sul. Para Panizza, os conselhos dos governos
aos turistas vão na mesma linha:
alertam para perigos reais.
"O governo brasileiro não tem
tido estratégia para combater a
violência, e essa inação só faz a situação piorar. O Rio tinha de ser a
capital do turismo mundial, mas a
violência crescente não deixa."
Segundo Dan Platt, pesquisador
de Brasil na Anistia Internacional,
o destaque dos problemas de violência no exterior pode ter efeito
positivo. "Muitas vezes o carioca
fica cego ao problema da violência nas favelas até que esta chegue
às praias. Esse tipo de destaque,
talvez, force a sociedade a se mobilizar mais e o governo a agir."
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