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SEGURANÇA
Apesar de menores índices de criminalidade, zona sul carioca é mais protegida pela polícia que bairros pobres
Área nobre do Rio tem mais policiamento
MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO
A distribuição do policiamento
na região metropolitana do Rio
privilegia os bairros da zona sul
da capital em detrimento as áreas
mais pobres, onde a população e
os índices criminalidade são mais
elevados.
Dados fornecidos por associações vinculadas à PM (Polícia Militar) revelam grandes discrepâncias: os efetivos dos batalhões da
zona sul são proporcionalmente
(comparados ao tamanho da população) maiores- às vezes até
em números absolutos- do que
os localizados no subúrbio, zona
oeste e Baixada Fluminense, áreas
bem mais violentas.
A zona sul, onde vivem 708.732
pessoas, possui 1 policial para cada 324 habitantes. A Baixada Fluminense, cuja população é cinco
vezes maior (3.598.727 pessoas),
tem 1 PM para 1.278 habitantes.
Comparando batalhão a batalhão, as discrepâncias são ainda
maiores. Um dos exemplos é o do
23º Batalhão, que abrange seis
bairros e favelas da Rocinha e do
Vidigal, cuja população somada é
de 230.400 pessoas.
O efetivo da unidade é de 1.177
homens, superior ao do 20º Batalhão, em Mesquita (Baixada Fluminense), que abrange outros
quatro municípios e conta com
1.005 homens para garantir a segurança de uma população quase
sete vezes maior (1.602.424).
Apesar do efetivo maior, a região do 23º Batalhão apresenta
uma média mensal de 2,8 homicídios (a terceira menor) enquanto
a área do 20º é a que tem a
maior- 73,8 assassinatos por
mês, de acordo com a Secretaria
de Segurança Pública.
A desigualdade se repete quando o efetivo do 23º é comparado
ao do 14º Batalhão (Bangu, zona
oeste). A unidade, que responde
por 12 bairros cuja população somada é de 786.874 habitantes,
conta com 737 PMs e média de 30
homicídios por mês, dez vezes
mais do que no Leblon.
Mesmo com o policiamento
maior do que em outras áreas
mais violentas e populosas, a região do Leblon vem registrando
vários episódios de violência nos
últimos meses, como a guerra entre traficantes da Rocinha e Vidigal, que começou na Semana Santa, além do arrastão na praia do
Leblon, no final de setembro.
O presidente da Associação de
Moradores do Leblon, João Fontes, disse que não há policiais nas
ruas. "Falta policiamento ostensivo e preventivo. Os episódios
ocorridos nos últimos meses nos
deixaram com vergonha de ser
carioca", declarou Fontes.
Copacabana
O 19º Batalhão, que abrange os
bairros de Copacabana e do Leme
(zona sul), tem o efetivo numérico (417) quase igual ao do 21º (São
João de Meriti, Baixada Fluminense), que possui 423 policiais,
embora a população seja quase
três vezes menor (161.178 e
461.638 respectivamente).
Em compensação, a média de
homicídios em São João de Meriti
é de 15 por mês enquanto que na
área do 19º, é de 1,4 assassinatos
por mês, em média, o menor índice na região metropolitana.
O 2º Batalhão, responsável pelos
bairros de Botafogo, Flamengo,
Catete, Glória e Cosme Velho, todos na zona sul, conta com 587
policiais, número superior ao do
15º Batalhão, em Duque de Caxias, que tem 529.
Não foi levado em conta, porém, que o batalhão de Caxias
abrange uma área com 830.679
habitantes, quase três vezes mais
do que a do 2º, que tem 317.154
pessoas. Nem que Duque de Caxias registra 98 assaltos a pedestres por mês contra 47,2 na região
do batalhão de Botafogo.
O 9º Batalhão, que fica no subúrbio de Rocha Miranda, apresenta a maior média mensal de
roubos a pedestres no Rio. São
200 por mês. Apesar disso, tem 1
policial para cada 1.256 habitantes, o quarto pior efetivo proporcional da região metropolitana.
As favelas localizadas na zona
sul também recebem maior atenção da polícia. Quando explodiu a
guerra entre quadrilhas rivais da
Rocinha, durante a Semana Santa, a Secretaria de Segurança mobilizou 1.300 homens para ocupar
a favela nas semanas seguintes.
Na semana passada, quando
houve confrontos entre traficantes na favela Vigário Geral (subúrbio), que já foi palco de várias chacinas, apenas 120 policiais ocuparam a comunidade.
Ofício
"Enviei um ofício ao comando
da Polícia Militar para saber qual
é o critério utilizado para a distribuição do policiamento", disse o
economista Eduardo Fauze, coordenador do Movimento Baixada
Livre, que defende a estadualização da região.
Segundo Fauze, Nova Iguaçu e
Duque de Caxias têm excelente
potencial econômico e deveriam
receber mais atenção.
O diretor da Associação Nacional dos Policiais Militares, tenente
Melquisedec do Nascimento, disse que a zona sul é privilegiada
pois lá "moram os protagonistas
teóricos da segurança pública".
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