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VESTIBULAR
Funcionário da instituição acompanha estudante nas aulas do cursinho; preparação é possível devido a convênio
Jovem infrator tenta trocar Febem por USP
ANDRÉ NICOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Entre os 161 mil candidatos que
farão o vestibular da Fuvest hoje,
pelo menos dois esperam que o
exame seja mais do que a porta de
entrada para uma universidade
gratuita. Para Júlio, 19, interno da
unidade de Pirituba da Febem, e
Eduardo, 18 (nomes fictícios), hoje no regime semi-aberto da instituição, a prova é uma das etapas
para a reintegração à sociedade.
A preparação dos dois começou
no início de agosto, quando Júlio
recebeu uma bolsa de 80% do valor da mensalidade para o curso
de educação física da Universidade Metodista de São Paulo. Para
poder cursá-la, entretanto, ele teria de ser aprovado no vestibular
da instituição. Educadores da Febem procuraram o Cursinho da
Poli, pré-vestibular sem fins lucrativos, para que ele pudesse frequentar as aulas, e um convênio
entre as instituições foi assinado.
Na época, Eduardo também estava em Pirituba e aproveitou a
oportunidade. Todas as tardes,
ele pega metrô e trem para ir ao
cursinho e tenta estudar no percurso. Ele tentará uma vaga em
direito na USP e na Unesp.
Como ainda é interno, Júlio tem
de ir para o cursinho todos os dias
acompanhado de um funcionário
da instituição. "Mas eles não me
atrapalham. Quando são professores, eles até me ajudam", disse
ele, que tentará entrar em educação física na Metodista e na USP.
Mesmo que não sejam aprovados, os dois acham que a preparação já está servindo para incentivar outros internos. "No começo,
alguns colegas da unidade falavam que eu era louco, que eu deveria aproveitar para fugir e ir
roubar. Hoje, eu sirvo como um
espelho para eles", diz Júlio.
Segundo Alvino Augusto de Sá,
professor da USP e do Mackenzie,
a educação é importante na ressocialização dos jovens infratores,
pois permite o desenvolvimento
da capacidade de reflexão e de
simbolização. "Com isso eles percebem seu papel social na construção da sociedade."
Mesmo que não haja reflexão, o
psicanalista Jacob Pinheiro Goldberg considera qualquer tipo de
aquisição de informação importante para a recuperação do infrator. "Na nossa sociedade, o conhecimento é pré-requisito para a
cidadania. Se ele não o possui, ele
se sente humilhado e reage pelo
crime. Com a educação, ele ganha
outra forma de poder que não a
violência", disse ele.
Adultos
Pelo menos 30 detentos em regime semi-aberto ou egressos também irão prestar vestibular hoje.
Um convênio entre o Cursinho da
Poli e a Funap (órgão estadual de
amparo aos presos) é o que permite aos presos assistir às aulas.
Neste vestibular da Fuvest, todos conseguiram a isenção da taxa de inscrição, o que não aconteceu com os adolescentes da Febem. A inscrição de Júlio foi paga
pelo diretor da unidade de Pirituba e as de Eduardo, parte pela unidade, parte por seus familiares.
Uma das beneficiadas com a
isenção da Fuvest foi Elisabete
Scarpitti Scaringe, 48, que cumpre
pena em regime semi-aberto na
Penitenciária Feminina do Butantã e trabalha na Funap. Como tem
de estar todos os dias às 20h na
penitenciária, ela assiste às aulas
do cursinho apenas aos sábados.
Na penitenciária, ela afirma não
conseguir estudar, pois chega às
20h, mas a fila para a revista costuma demorar pelo menos uma
hora e meia e as luzes são apagadas às 22h. "Eu procuro aproveitar ao máximo as aulas do cursinho e estudo um pouco no domingo. Se não passar, prestarei de
novo, porque passar na faculdade
de direito é o meu objetivo."
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