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DANUZA LEÃO
Mistérios
Um rosto é algo de muito
interessante -e estranho.
Numa superfície de cerca de um
palmo por um palmo, existem variados elementos, todos absolutamente diferentes uns dos outros, e
o conjunto, misteriosamente, dá
certo.
Começando pelas sobrancelhas:
elas são duas, e praticamente
iguais. Algumas são espessas, outras ralas, umas pretas, umas castanhas, retas, em arco ou em forma de acento circunflexo, como
as de Veronica Lake.
As sobrancelhas são uma espécie de moldura para os olhos, que
podem ser de diferentes formas e
cores. Existem os grandes, os pequenos, os redondos, os amendoados, os puxados; e ainda têm
as cores: todas as gamas de verde
e de azul, variados tons de marrom, do quase dourado ao café, os
cor de cana e os mais raros: os negros. Não sei bem por que, mas
nunca se diz olhos pretos, sempre
olhos negros. E os olhos ainda têm
uma particularidade: a expressão.
Olhos podem exprimir ódio, indiferença, paixão, piedade; por
eles você sabe se a pessoa está sendo sincera ou se está mentindo, e
ainda por cima eles enxergam;
não é extraordinário?
Eles são dois, geralmente da
mesma cor, e como acabamento
têm, na parte de cima, bem grudadinho, uma espécie de franja
que são os cílios, que podem ser
curtos ou longos, retos ou curvos,
pretos ou claros.
Aí tem o nariz. Não dá para falar das diferentes formas de nariz,
mas só como comentário, um nariz perfeito pode banalizar um
rosto e outro, imperfeito, dar personalidade a seu dono, que curioso. Um nariz é uma coisa milagrosa: ele cheira, não é o máximo?
Aí vem a boca, e tem gente que
tem e gente que não tem, como
Bush, por exemplo. Elas podem
ser rosadas, quase vermelhas e,
nas mais morenas, praticamente
marrons. Uma boca bonita é uma
coisa linda, e as dos bebês parecem uma goiaba madura. É através da boca que se sente o sabor
dos alimentos, e isso não é maravilhoso?
Dentro da boca, os dentes. Esses
podem ser de diversos tons e das
mais diversas formas e tamanhos.
Pequenos, grandes, claros, menos
claros, alguns grandes demais,
outros exatamente o contrário. E
ainda tem a pele, que pode ser
clara, marrom, rosada e até azul
marinho, de tão preta; algumas
têm pintinhas, umas são finas,
outras grosseiras, umas lisas, outras vincadas, e a indústria da beleza gira trilhões de dólares só por
causa dela. O que uma mulher
não faz por um creme novo? Em
volta desse conjunto, os cabelos;
ah, os cabelos.
A gente nasce com eles lisos ou
cheios de cachinhos, pretos, castanhos, cor de palha ou de cobre;
com o tempo costumam acontecer mudanças de cor e eles ficam
brancos como a neve; ah, não
existe tédio na vida de uma mulher de cabelos compridos e com
alguma imaginação. Ah, e ainda
tem essa coisa estranhíssima que
é a orelha -que, aliás, são duas.
Costumam ser iguais e feias, e só
se salvam as pequenas -quanto
menores, melhor. Como se isso
não bastasse, muitas pessoas fazem um furinho em uma ou nas
duas para pendurar fios de ouro
ou prata com pérolas e pedras
preciosas, veja você. E elas escutam: não é fantástico?
É da harmonia desses elementos que surge essa coisa misteriosa
que é a beleza, mas que fique claro: mesmo cada um deles sendo
perfeito, não há garantia de nada.
Só para lembrar: nos dias de hoje, tudo o que foi citado pode ser
transformado, da cor dos cabelos
à dos olhos, da forma do nariz à
da boca -como as mulheres,
aliás, estão exaustas de saber. E
tem mais: a não ser no caso de gêmeos idênticos, não existem duas
caras iguais no mundo inteiro.
Não é engraçado?
Essa pequena superfície de que
falamos -e na qual uma mulher
vaidosa usa cerca de dez produtos
para sair de casa (sem contar outros dez nos cabelos)- é apenas a
parte da frente de uma esfera menor do que uma bola de futebol, e
é dentro dela que acontecem as
coisas mais surpreendentes: os
pensamentos.
Os bons, os ruins, os criativos, os
destrutivos, os ódios, as paixões, o
caráter, a força de vontade, a fraqueza, tudo; absolutamente tudo.
Muito louco, não?
E-mail - danuza.leao@uol.com.br
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