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EDUCAÇÃO
Pesquisa mostra que, mesmo entre alunos da mesma instituição e classe social, negros têm notas piores que as dos brancos
Preconceito afeta desempenho na escola
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
A universalização do ensino no
Brasil não é suficiente para acabar
com as desigualdades raciais na
educação brasileira. Um estudo
feito por pesquisadores da PUC
(Pontifícia Universidade Católica) do Rio de Janeiro a partir de
dados do Ministério da Educação
mostra que estudantes negros estão aprendendo menos do que os
brancos de mesmo nível social e
que estudam na mesma escola.
Analisando as notas dos alunos
no Saeb (Sistema de Avaliação da
Educação Básica), principal exame do ministério para medir a
qualidade da educação brasileira,
os pesquisadores Angela Albernaz, Francisco Ferreira e Creso
Franco mostraram que os negros
tinham, na média de todas as disciplinas verificadas, desempenho
inferior em 9,3 pontos ao dos
brancos, mesmo quando eram
comparados alunos da mesma
classe social e da mesma escola.
O estudo, financiado pela Fundação Ford, também aponta diferenças nas notas entre brancos e
pardos. Nesse caso, a diferença a
favor dos brancos é de 3,1 pontos.
Para os pesquisadores, os resultados são uma forte evidência de
que pode estar havendo preconceito na escola. Professores podem estar tratando de maneira
desigual negros e brancos da mesma sala de aula.
Outra explicação é a herança
entre gerações. As pesquisas do
ministério mostram que a escolaridade dos pais e avós influi diretamente no rendimento escolar
do aluno. Quanto mais escolarizados são os pais e os avós, melhor
tende a ser a nota dos alunos.
"É muito provável que a educação dos avós -que não pudemos
levar em conta na análise- explique parte da diferença que encontramos", afirma Franco, um dos
autores do estudo.
A pesquisa também levanta a
hipótese de que possa haver um
viés cultural nos currículos escolares quando eles enfatizam, por
exemplo, os aspectos normativos
do uso da língua em vez de valorizar a capacidade de comunicação
oral e escrita.
"Todos perdem quando a escola
distancia-se da realidade dos alunos, mas os grupos sociais historicamente afastados do poder e da
cultura erudita perdem mais",
afirma Franco.
Os autores do estudo defendem
o debate sobre políticas de ações
afirmativas, como as cotas que garantem um percentual mínimo de
vagas em universidades para estudantes negros ou pardos. Segundo eles, os dados mostram
que não basta universalizar o ensino e dar a mesma educação para
negros e brancos para que a desigualdade no ensino acabe.
Os autores do estudo, no entanto, não minimizam os efeitos da
universalização. Nas provas de
matemática, por exemplo, a diferença entre a nota média de negros e brancos, sem levar em conta a classe social e a escola onde
estudam, é de 24 pontos a favor
dos brancos. Quando os pesquisadores comparam apenas negros
e brancos da mesma classe social
e da mesma escola, a diferença cai
para 13 pontos.
Ainda assim, segundo Franco,
trata-se de uma diferença significativa. O Saeb, exame que serviu
de base para o estudo, tem uma
escala de notas que vai de 0 a 475.
Os estudantes da 4ª e da 8ª série
do ensino fundamental e do 3º
ano do ensino médio fazem a
mesma prova. De acordo com a
pontuação, é verificado se a nota é
compatível com o nível esperado
para cada série.
A diferença média de 13 pontos
em matemática representa 26%
do desvio padrão médio verificado (cálculo que indica qual a diferença entre as notas parciais que
compõem a média final em relação a essa média), que foi de 50
pontos. Essa diferença, explica
Franco, é suficiente para determinar se um candidato passaria ou
não num vestibular de universidade pública.
A desigualdade entre negros e
brancos e as hipóteses de que o
preconceito afeta o desempenho
dos negros já haviam sido detectadas em estudo da Fundação
Carlos Chagas em São Paulo.
A ex-secretária de Educação de
São Paulo Rose Neubauer participou da pesquisa da fundação e
concorda com as conclusões dos
pesquisadores da PUC. "As pesquisas sugerem que as crianças
negras têm sido mais abandonadas na escola", afirma.
Para ela, pode estar acontecendo o que os especialistas chamam
de profecia que se auto-realiza.
Ou seja, o professor tem uma expectativa de que o aluno negro
aprenda menos e, por isso, dá menos atenção a ele. Por causa da falta de atenção, o estudante acaba
realmente tendo rendimento pior
que o dos colegas de classe.
Neubauer cita também pesquisas que mostram que a auto-estima pode influenciar o desempenho. Uma delas, feita pela psicóloga Ana Maria Popovic na década
de 80, mostrava que havia diferença na auto-estima das crianças
negras que estavam na pré-escola
e no ensino fundamental.
A pesquisa dizia que, ao entrar
no fundamental, havia uma perda
de auto-estima das crianças, o que
pode interferir em seu desempenho. "O professor, ao elogiar apenas o cabelo macio de um aluno
de cor branca, pode estar reforçando um modelo cultural de beleza. Isso pode afetar a auto-estima e o desempenho escolar de
um estudante negro da mesma
classe", afirma.
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