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EDUCAÇÃO
Universidade de Michigan, que adota a prática na seleção, será julgada no mês que vem; professora defende o sistema
Nos EUA, critério racial vai à Suprema Corte
DA SUCURSAL DO RIO
No Brasil e nos Estados Unidos,
a política de ação afirmativa
-um dos meios sugeridos pelos
pesquisadores da PUC para diminuir a desigualdade no ensino-
está sendo posta em xeque por
parte da sociedade.
No Brasil, a polêmica está no
sistema de cotas raciais e de reserva de vagas para alunos da escola
pública implementado pela Uerj
(Universidade do Estado do Rio
de Janeiro), que está sendo contestado judicialmente no STF (Supremo Tribunal Federal).
Nos Estados Unidos, onde as
maiores universidades adotam
políticas de ações afirmativas há
mais de 30 anos, o centro da polêmica está na Universidade de Michigan, cujo sistema de admissão
levando em conta critérios raciais
está sendo contestado na Suprema Corte daquele país.
O caso de Michigan, com julgamento previsto para o mês que
vem, pode obrigar quase todas as
universidades de grande porte
dos EUA a reverem suas políticas
de ações afirmativas.
O caso é tão polêmico que dividiu opiniões dentro do governo
americano. O presidente George
W. Bush criticou o critério adotado pela universidade, enquanto o
secretário de Estado, Colin Powel,
saiu em defesa.
A professora da Faculdade de
Educação de Michigan Valerie
Lee participou no início deste mês
de um debate no Rio sobre ações
afirmativas e defendeu o sistema
de sua universidade.
Nos Estados Unidos, o estabelecimento de cotas -como acontece hoje na Uerj- é ilegal, mas as
universidades podem levar em
conta outros critérios, além dos
testes, no processo de seleção de
um estudante.
Lee explicou que, na Universidade de Michigan, alunos negros,
hispânicos ou que são bons atletas
ganham pontos a mais no processo seletivo, que são somados aos
pontos obtidos nos testes.
Segundo Lee, a diversidade étnica nos campi das mais concorridas universidades norte-americanas é uma política voluntária dessas instituições.
"Não somos obrigados a estipular esses critérios. Acho que as
universidades procuram a diversidade porque, nos EUA, muitas
empresas grandes incentivam a
diversidade no trabalho. Por fazerem isso, elas querem empregados que, de preferência, já tenham
convivido na universidade com
políticas de ações afirmativas",
afirmou Lee à Folha.
Ela afirma, no entanto, que nenhuma universidade concorrida
aceita abrir mão totalmente do
critério acadêmico na admissão
de estudantes de minorias. "É por
isso que estudantes de minorias
com bom desempenho nos testes
são tão disputados pelas universidades", disse.
A ação contra a Universidade de
Michigan, assim como a ação
contra a Uerj, foi movida por estudantes brancos que não se classificaram nos testes por não terem
preenchido nenhum dos critérios
de ação afirmativa.
Lee reconhece que as ações afirmativas são injustas com esses estudantes excluídos.
"As vantagens das ações afirmativas são óbvias, pois elas aumentam a presença de minorias nas
melhores universidades. Mas não
há dúvida de que elas sejam injustas com os que não conseguem
entrar na universidade apesar de
terem notas para isso", afirmou.
Apesar dessa injustiça, ela defende as ações afirmativas. "Essa
política existe porque queremos
construir uma igualdade racial. É
preciso continuar porque ainda
não chegamos a esse ponto, mas,
se não fossem as ações afirmativas, dificilmente hoje teríamos
um secretário de Estado negro."
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