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SAÚDE
Fila de espera para tratamento em serviços de saúde chega a um ano, entre a primeira consulta e o início da terapia
Falta de reabilitação prejudica deficiente
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
A falta de uma reabilitação precoce após cirurgia ou internação
hospitalar pode ocasionar sequelas ainda mais graves do que o
problema original. Em alguns casos, há risco aumentado de morte.
Os paraplégicos não-reabilitados,
por exemplo, têm 18% a mais de
chances de morrer no primeiro
ano após a lesão. Entre os tetraplégicos, os riscos chegam a 40%.
Segundo pesquisa da USP-SP,
as pessoas que sofrem lesões na
medula, cerca de 9.000 por ano,
podem desenvolver trombose venosa (formação de coágulos no
interior das veias) e ossificação
heterotópica (endurecimento dos
músculos em razão do depósito
de cálcio) se não receberem cuidados adequados nos três primeiros meses após o acidente.
Embora os benefícios da reabilitação sejam mais do que comprovados, especialmente para desenvolver o potencial de independência do doente, mesmo que sua lesão seja crônica, médicos fisiatras
dizem que apenas uma pequena
parte dos lesionados brasileiros
consegue ter acesso a um tratamento precoce adequado.
Nos serviços ligados aos hospitais-escola da capital, a fila de espera para uma primeira consulta
chega a três meses. Para o início
do tratamento, a espera média leva outros três meses.
Na AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente), 1.881
pessoas, a maioria crianças,
aguardam a vez para uma primeira consulta. Outras 2.575 esperam
pelo início do tratamento.
Há filas de espera também para
a aquisição de aparelhos ortopédicos -1.997-, cirurgias
-1.316-, avaliação -4.903- e
consultas de retorno -12.921. Segundo Décio Goldfarb, presidente da entidade, o tempo médio de
espera é de oito meses a um ano.
De acordo com a fisiatra Therezinha Rosane Chamliam, diretora
técnica do Lar Escola São Francisco, ligado à Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), as pessoas fazem uma verdadeira peregrinação pelos serviços públicos
até conseguir uma vaga nos centros de reabilitação, o que agrava
as sequelas das lesões.
Além disso, diz ela, é comum os
centros de reabilitação receberem
pacientes encaminhados por outros hospitais públicos sem um
encaminhamento correto. "O
doente chega sem o histórico clínico, sem os exames." Nesses casos, o paciente é orientado a procurar o médico que o atendeu, o
que retarda ainda o tratamento.
Para a fisiatra Linamara Rizzo
Battistella, diretora da Divisão de
Medicina de Reabilitação do Hospital das Clínicas de São Paulo,
muitos médicos ignoram a importância da reabilitação precoce.
Aliado a isso, diz ela, está a dificuldade da família e do paciente
em aceitar os limites do tratamento. Isso também leva à peregrinação por outros serviços em busca
de um tratamento supostamente
mais eficiente. "É preciso aprender a conviver com a deficiência.
Entender que a vida não será nem
pior nem melhor, apenas será diferente", afirma Battistella.
Segundo a médica, a falta de
meios de locomoção até os serviços de saúde é outro sério problema enfrentado pelos deficientes.
Já os doentes que podem bancar
um tratamento particular contam
a partir desta semana com um novo centro de reabilitação, ligado
ao hospital Albert Einstein.
O serviço tem desde piscina
com plataformas capazes de receber pacientes em coma até um espaço com protótipos de uma banca de jornal, gôndolas de supermercado, cozinha, entre outros,
que ajudam o doente a exercitar
atividades da vida diária.
Segundo a fisiatra Cristiane Isabela de Almeida, coordenadora
do serviço do Einstein, muitos pacientes, mesmo os de outros serviços particulares, não fazem a
reabilitação precoce por desconhecimento ou por dificuldade de
encontrar, num único lugar, tratamento multidisciplinar.
Segundo ela, o objetivo do centro é proporcionar terapias que
acelerem o processo de autonomia das vítimas de incapacidade
física ou neurológica.
A dona-de-casa Ione Toledo,
72, passou por dois processos de
reabilitação após cirurgias no joelho e na cabeça do fêmur em razão de lesões causadas por desgaste ósseo. Após a fisioterapia,
ela diz que se livrou das incômodas dores e deixou de lado as bengalas que usava para caminhar.
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