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Jobim pede que militares tolerem provocação
Ministro da Defesa afirma que os militares escalados para trabalhar na favela devem ter "solidariedade à comunidade"
Para Lula, retirada das tropas do morro interromperia as obras federais na
favela e transmitiria uma imagem de culpa
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em discurso para uma tropa
perfilada de 250 militares do
Exército que atuam no morro
da Providência (centro do Rio),
o ministro da Defesa, Nelson
Jobim, alertou-os de que moradores da comunidade os provocarão e que, para evitar novos
problemas, não poderão reagir.
Em seu discurso, Jobim destacou que é natural, neste momento, que ocorram provocações. "Elas [as provocações]
não podem ensejar, não devem
ensejar, nenhum tipo de reação", afirmou o ministro.
"Nosso problema agora (...) é
a conduta de vocês nos próximos dias, nos próximos meses.
(...) A conduta individual e coletiva dos senhores no desenvolvimento da atividade de segurança para a realização dessas
obras", disse Jobim, referindo-se ao trabalho realizado pelo
Exército na favela.
"Há que ter (...) a tolerância e
a compreensão de que algumas
pessoas e várias delas foram
atingidas no reduto mais importante, que é a vida de seus irmãos." E acrescentou: "Essas
pessoas têm razão no extravasamento do seu ódio".
Antes de ir ao quartel, Jobim
esteve no morro, protegido por
cerca de 50 militares e dez seguranças. O ministro percorreu
as obras na parte baixa da favela, bebeu café na casa de Sueli
Ribeiro, 58, tia de David Wilson, um dos mortos, e se reuniu
com líderes comunitários.
Antes de embarcar para o
Rio, o ministro se encontrou
com o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, que determinou a
Jobim que mantenha o Exército no local e acompanhe as investigações sobre a morte dos
três jovens de modo a dar uma
satisfação rápida e eficiente.
Na avaliação de Lula, a retirada do Exército do morro interromperia as obras federais na
favela e transmitiria uma imagem de culpa. O presidente só
admite a saída, obviamente, em
caso de ordem judicial.
O presidente classificou o
episódio de "gravíssimo", nas
palavras de um auxiliar direto.
Também teve participação de
Lula o pedido de desculpas do
Exército às famílias dos jovens
assassinados.
Justiça
A Defensoria Pública da
União vai entrar na Justiça com
uma ação civil pública, com pedido de liminar, para que o
Exército seja retirado imediatamente do morro da Providência. Segundo André Ordacgy, defensor titular do ofício
de direitos humanos e tutela
coletiva do Rio de Janeiro e autor da ação, "há um desvio de finalidade gritante" na atuação
do órgão no morro.
Ele também prepara um pedido de indenização civil para
as famílias dos três jovens assassinados -em torno de
R$ 300 mil para cada família
mais pensão mensal vitalícia.
A Secretaria Especial de Direitos Humanos, ligada à Presidência, divulgou em nota que
criará uma comissão para
acompanhar as investigações.
Colaboraram LUCAS FERRAZ E LETÍCIA SANDER, da Sucursal de Brasília
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