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NOVOS INQUILINOS
Cerca de 30 pedreiros, ajudantes e chefes de obras trabalham na construção do futuro Parque da Juventude
Ruínas do Carandiru viram moradia de operários
DO "AGORA"
São 6h. Valdir Bandeira dos
Santos, 38, se levanta do colchão
fino e contempla os raios do sol
nascente por entre as grades de
sua cela. Toma banho, se alimenta
com pão e café e segue para o pátio em frente ao pavilhão 5. O homem, porém, não usa calças bege,
não é criminoso e muito menos
cumpre pena.
As mãos calejadas acusam: trata-se de um trabalhador, mais especificamente, de um encarregado de obras. Há 15 dias, sua nova
morada é a cela 5233-E do extinto
pavilhão 5 da Casa de Detenção. A
cela onde Santos vive abrigava, há
um ano e meio, presos jurados de
morte ou com enfermidades graves, no prédio que ganhou o apelido de "amarelão".
Santos não é o único a dormir e
acordar em meio aos fantasmas
do complexo Carandiru (zona
norte de São Paulo), presídio conhecido por suas rebeliões, por
seus bandidos famosos e por suas
tragédias, como a morte de 111 detentos, pela PM, em 1992.
Parque da Juventude
Dividem dez celas e os corredores do pavilhão 5 cerca de 30 pedreiros, ajudantes e encarregados
de obra que trabalham para transformar o lendário complexo em
um parque de 300 mil m2, que
abrigará um anfiteatro e centros
de formação profissional e tecnologia: o Parque da Juventude.
Acostumados, eles já não temem "assombrações" e acham
que a moradia improvisada "não
é tão ruim assim". Após a desativação de um alojamento que ficava dentro da área do parque, os
operários chegaram a um consenso e decidiram que poderiam morar na antiga carceragem. "Ninguém acha uma maravilha. No
primeiro dia não foi fácil. Nunca
passei uma noite preso. Fiquei
imaginando quantas pessoas já
morreram e quantos criminosos
perigosos já dormiram nessa cela.
Mas é melhor ficar aqui do que ir
todos os dias para a minha casa
em Cotia", disse Santos, que passa
os fins de semana com a família
-como se estivesse mesmo num
regime semi-aberto.
"Bois" e "bandecos"
Mas nem tudo é cadeia. Os antigos "bois" (buracos no chão ligados à rede de esgoto que serviam
de sanitários) deram lugar a um
banheiro químico, no pátio, que
ainda mantém os escombros que
restaram dos três pavilhões implodidos no dia 8 de dezembro de
2002. E é essa a principal vista que
os novos moradores têm de suas
"casas". Numa cena que lembra
os detentos dos tempos das carceragens lotadas, ávidos por liberdade, os trabalhadores gastam o
pouco tempo livre olhando o vaivém de carros e pessoas nas ruas
de Santana (zona norte).
Quando a noite cai, é possível
ver as luzes acesas nas celas do pavilhão e as silhuetas dos novos inquilinos. Outro motivo que mantém o grupo lá é a comida. Em vez
do marmitão, muitas vezes azedo
jogado na porta da cela, uma caminhada até a cantina da empresa
responsável pela obra garante um
"bandeco" melhor: arroz, feijão,
carne de porco e frutas.
(GIBA BERGAMIM JR.)
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