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"Se aparecesse uma casa, largava tudo"
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Chico da Pedra, 70, decidiu viver isolado desde que sua mulher
morreu, no começo da década de
80. Hoje já está cansado da caverna. "Eu gosto do sossego, mas, se
aparecesse uma casa lá embaixo
para mim, largava tudo."
Por meio de uma dica do irmão,
que então morava na favela, ele
descobriu a gruta, que no princípio era apenas uma rocha pregada ao chão. Ele cavou ao redor até
descortinar uma pequena caverna. Depois fechou a entrada com
madeira, cimento e uma porta.
O ambiente interno tem 20 m2 e
o teto é inclinado, com altura máxima de dois metros. O espaço
não tem divisão. A mobília se restringe a cama, fogão, geladeira e
um rádio. Roupas e mantimentos
são guardados em caixas.
As paredes de pedra protegem
no caso de balas perdidas no morro. A água da chuva não entra,
mas o clima interno é pouco hospitaleiro. "No inverno, aqui dentro é muito gelado; no verão, muito quente." O banho também é
frio, e o banheiro, no mato.
Chico da Pedra tem filhos e netos que moram no Vidigal, em casas próximas à sua caverna. Ele
não recebe aposentadoria e ficou
inválido para trabalhar quando
fraturou o ombro após cair de um
prédio em que fazia limpeza. Hoje
vive da ajuda da família e de doações da associação de moradores.
A fama de rezador também lhe
rende alguns clientes que chegam
em busca de cura. Em seu quintal,
é possível colher frutas como jaca,
tangerina, banana e abacate.
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