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TRABALHO INFANTIL
Especialistas acreditam que atividade precoce prejudica desenvolvimento e gera adulto inseguro
Tuca Vieira/Folha Imagem
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Luana, 7 anos, que vende balas à noite em bares da Vila Mariana, na zona oeste de São Paulo |
Psicólogos dizem que idade é de brincar
DA REPORTAGEM LOCAL
As responsabilidades assumidas com o trabalho prejudicam o
desenvolvimento das crianças e
podem gerar adultos inseguros e
até violentos, segundo psicólogos
ouvidos pela Folha.
"A criança é forçada a se transformar em um adulto sem ter desenvolvido a estrutura necessária
para isso. Pular essa fase da vida
traz danos que podem prejudicar
a sua capacidade de ter uma vida
prazerosa", afirma o psicólogo e
professor da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp de Assis,
Nelson Silva Filho.
Para o professor, não só as
crianças, mas também as famílias,
são vítimas da omissão do Estado,
que deveria oferecer condições
para todos viverem dignamente.
"Culpar a família é temerário,
estamos detectando uma situação
muito perversa que parte do fato
de o Estado não estar cumprindo
seu papel", afirma Silva Filho.
De acordo com Rosane Schiller,
psicóloga da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e do
Colégio Santo Américo, o trabalho obriga a criança a estabelecer
quase todas as suas relações com
adultos, o que acaba por afastá-la
do universo infantil. "Todo relacionamento com adultos gera
aprendizado, pode ser de coisas
boas ou ruins, mas algo está sendo passado às crianças", afirma.
Para Rosane, a falta de tempo
para brincar e conviver com amigos da mesma idade priva as
crianças de elaborar seus conhecimentos sobre o mundo através da
brincadeira. "A criança experimenta coisas antes de fazer, brinca de ser professora, aeromoça, e
essa experimentação é importante. O problema de não brincar está exatamente em ir direto para o
ato, sem preparação", diz
Segundo a psicóloga, mesmo as
crianças que afirmam gostar de
trabalhar, pelo fato de poderem
ajudar os pais, não têm consciência do que dizem. "Esse discurso
de ajudar a família é mentira, é a
reprodução do discurso dos pais.
Uma criança não tem condições
de achar isso, ela é incapaz de
construir um sentimento de solidariedade a esse ponto", afirma.
Maria Dirce Benedito, psicóloga
do setor de saúde mental do departamento de pediatria da Unifesp, acredita que o amadurecimento precoce das crianças, que
vem com o trabalho, não é saudável. "Nessa idade, elas deveriam
estudar e brincar. É na brincadeira que a criança exercita a fantasia
e a criatividade. Isso faz com que
ela tenha uma condição intelectual melhor no futuro", diz.
Programas
Mesmo para os aprendizes, o
trabalho noturno é proibido no
Brasil e considerado nocivo. Entre
as políticas do governo federal para tentar resolver o problema está
o Peti (Programa de Erradicação
do Trabalho Infantil).
O programa, que se compromete a erradicar as formas mais prejudiciais de trabalho, atua desde
1996 na inserção imediata da
criança na escola, oferta de jornada ampliada e fornecimento de
uma bolsa (R$ 25 na área rural e
R$ 40 na urbana) para compensar
a renda que a criança daria à família. Cerca de 800 mil crianças são
atendidas pelo Peti no país.
Apesar de já estar em funcionamento há seis anos, o Peti só chegou à cidade de São Paulo há cinco meses. Segundo a Secretaria da
Assistência Social, apenas 909
crianças são atendidas na capital.
Além de ganhar a bolsa, as
crianças passam a frequentar o
Espaço Gente Jovem, que oferece
atividades esportivas, culturais e
de lazer no horário extracurricular. Para isso, os pais assumem o
compromisso de garantir que elas
tenham uma frequência escolar
mínima de 70%.
No município, há também o
programa Renda Mínima, que dá
uma ajuda financeira (entre R$ 20
e R$ 220) às famílias para que as
crianças possam estudar. Segundo a prefeitura, cerca de 200 mil
famílias são beneficiadas.
De acordo com o secretário municipal do Trabalho, Márcio
Pochmann, a lei do programa não
proíbe a criança de trabalhar, mas
as famílias assinam um termo
comprometendo-se que isso não
acontecerá. "Se verificarmos que
ela trabalha, eles perdem o benefício", disse Pochmann.
Para o secretário, a atuação das
crianças como ambulantes na cidade é resultado da falta de fiscalização do Ministério do Trabalho.
Segundo a chefe de fiscalização
do ministério no Estado de São
Paulo, Roseli Nietto Piovezan, as
denúncias sobre trabalho infantil
na cidade são poucas.
"É dificílimo fiscalizar o trabalho infantil nas ruas. Já tentamos
fazer uma abordagem com crianças que trabalham com panfletagem em semáforos, mas elas se assustam, não querem conversar.
Nesse ponto, é importante o trabalho que as ONGs têm feito,
conscientizando as crianças para
o futuro", afirma.
(MELISSA DINIZ E TEREZA NOVAES)
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