|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
EDUCAÇÃO
Segundo especialistas, baixa auto-estima faz estudante desistir de disputa por vaga na universidade gratuita
Aluno da rede pública foge do vestibular
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Os estudantes da rede pública
de São Paulo e do Rio desistem de
entrar na universidade antes mesmo de tentar o vestibular. O fenômeno, conhecido por educadores
estudiosos do assunto como auto-exclusão, se acentuou nos últimos
anos, apesar do aumento significativo do número de alunos formados no ensino médio público.
Segundo dados do censo escolar
do Ministério da Educação, em
São Paulo, 430 mil alunos se formaram na rede pública em 2000.
Desses, 51 mil se inscreveram no
vestibular da USP. Na Unesp e na
Unicamp, a situação é parecida.
Em 2000, os inscritos da rede pública no vestibular da Unesp foram 39 mil e na Unicamp, 15 mil.
No caso da USP, isso significa
que, na melhor das hipóteses,
apenas 11,9% dos alunos que se
formam em escolas estaduais, federais e municipais se inscreveram no concurso. A proporção é
ainda menor, já que nas estatísticas de inscritos da rede pública na
USP estão também alunos que
concluíram o ensino médio em
anos anteriores ao do exame.
Na rede privada, o número de
concluintes em 2000 é quase o
mesmo de inscritos no vestibular
da USP. Nesse ano, as escolas particulares formaram 90 mil alunos
e a universidade teve 87 mil inscritos no exame egressos de instituições privadas.
Para a ex-secretária de Estado
da Educação Rose Neubauer, parte do problema é explicada pela
falta de auto-estima do aluno.
"Há um componente de falta de
incentivo e da auto-imagem que
se criou da escola pública. A sociedade e a imprensa criam a idéia
de perdedor do aluno da rede pública. Ele se vê dessa forma antes
de prestar vestibular", diz.
Na avaliação do coordenador
do Naeg (Núcleo de Apoio aos Estudos de Graduação) da USP,
Adilson Simonis, a tese da auto-exclusão se aplica principalmente
em cursos de menor procura, como os da área de humanas. "Em
cursos como ciências sociais e licenciatura, o aluno do ensino médio público compete de igual para
igual com os demais", afirma.
Nos cursos com maior procura,
como medicina e jornalismo, Simonis diz que a tese de que o estudante da rede pública tem menos
chance é confirmada pelas estatísticas de aprovação no vestibular
da USP. "A necessidade de preparação é muito forte", afirma.
Estudo elaborado pela equipe
do Naeg mostra que, apesar de representarem 36% dos inscritos, a
proporção de alunos da escola
pública entre os aprovados para
uma vaga é de apenas 19%. Nas
carreiras menos concorridas, o
desempenho dos estudantes da
rede pública é melhor.
O secretário da Educação do Estado do Rio, William Campos
(PT), afirma que o problema também é causado pela própria escola: "A escola pública tem vergonha de preparar para o vestibular.
Usou-se por muitos anos o discurso de que ela é feita para formar cidadãos. Mas isso também
passa por ter uma formação universitária", diz.
Em São Paulo, o fenômeno da
auto-exclusão tem aumentado.
De 1995 para 2000, segundo o
MEC, houve um aumento expressivo de 77,9% no número de concluintes da rede pública no ensino
médio. Foi um aumento superior
ao verificado entre os concluintes
da rede particular (28,8%).
Apesar do aumento maior nas
escolas públicas, principalmente
nas estaduais, a proporção de estudantes dessa rede e da privada
que tentam uma vaga na maior
universidade pública do país não
se alterou de 1995 a 2000, permanecendo em 36% de alunos da pública contra 60% da particular (os
4% restantes não se encaixam em
nenhuma das definições).
No Rio, as comissões de vestibular da UFRJ e da Uerj não forneceram dados que permitissem
a comparação com a evolução do
número de concluintes.
Texto Anterior: Trabalho infantil: Psicólogos dizem que idade é de brincar Próximo Texto: Estudante não é informado sobre exame Índice
|