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SEGURANÇA
"Suspeito para nós não é o verde, o amarelo, o preto ou o branco; é a conduta da pessoa", diz comandante
Rota pára e revista 634 pessoas por dia
DA REPORTAGEM LOCAL
A Rota tem um ditado: "Não levar dúvidas para casa, porque
quem fizer isso pode estar deixando que aconteça um crime".
A frase, dita pelo comando e repetida pela tropa, explica por que
seus policiais abordaram neste
ano, até o dia 12, 83.753 pessoas.
Isso significa 634 pessoas paradas e revistadas todos os dias deste ano -ou uma a cada dois minutos, se é considerado o expediente de 21 horas da Rota.
São ocupantes de carros, motoqueiros e até pedestres, esperando
ônibus no ponto ou caminhando
na calçada, que demostraram
comportamento suspeito.
"Suspeito para nós não é o verde, o amarelo, o preto ou o branco. É a conduta da pessoa, a atitude dela ao ver o carro da polícia
passando, por exemplo", afirma o
tenente-coronel José Roberto
Marques, comandante da Rota.
Na última quarta-feira, a Folha
acompanhou um turno de 12 horas de trabalho de pelotão de Rota
vespertino -das 11h às 23h-,
em patrulhamento pela zona sul
de São Paulo, região que tem os
piores índices de homicídio.
O patrulhamento reúne uma série de atitudes e ações que tentam
pressionar os criminosos a se revelarem no meio da multidão.
No caso, audição e visão são peças fundamentais dessa estratégia. "Vou andando e ouvindo as
conversas ao redor. Logo que chegamos aqui [favela da Guarapiranga], os olheiros dos traficantes
correram, a uns 300 metros daqui", afirma o tenente Morishita,
25, há dois anos na Rota.
Morishita comanda há um ano
e meio um pelotão -entre 20 e 24
homens. Nesse período, ele se envolveu em uma única ocorrência
com tiros, que terminou com a
morte de dois homens que teriam
reagido à abordagem.
O tenente e sua equipe -soldados Palmieri, 34, Daugio, 39, Sena,
32, e Antonio, 34- foram os
guias para a reportagem. A pedido, a Folha deixa de publicar o
nome completo deles, que preferem não ser identificados por
questões de segurança.
Quando cai a noite, a forte lanterna que um dos PMs carrega à
mão serve como uma "vara de
pescar" imaginária no trânsito e
nos pontos de ônibus. Quem é fisgado acaba parado e revistado.
"Não temos como saber se uma
pessoa que está sentada na calçada não esconde uma arma", diz o
tenente. E aí existe outro ditado
da Rota: ao revistar, ou "você
prende um bandido ou ganha um
amigo". Não é tão simples assim
por causa do clima que envolve a
ação de abordagem do suspeito.
O período acompanhado pela
Folha é considerado o mais crítico -das 11h às 23h. A prioridade
da ronda é o roubo de veículos e
de cargas, além do tráfico de drogas e sequestradores.
A equipe do tenente leva consigo um pequeno arsenal: um fuzil,
metralhadora, carabina 12, espingarda Puma, quatro pistolas, três
revólveres, além de escudo balístico. Todos os policiais usam coletes à prova de bala.
Realidade bem diferente dos
PMs da Rota no início da década
de 80. "Nós não tínhamos equipamentos, como escudo balístico.
Muitas vezes entrávamos [em casas] sem técnica", diz o comandante da Rota, que foi tenente na
unidade entre 77 e 84.
A primeira parte do trabalho faz
parte do estágio dos 99 PMs da
nova companhia de Rota que está
sendo criada. A reportagem e a
equipe do tenente Morishita entram na favela Guarapiranga, na
zona sul, um conhecido ponto de
tráfico de drogas, segundo a PM.
Depois, começam as rondas pelas principais avenidas da região
da represa Guarapiranga.
Ao final do dia, o grupo tinha
rodado 162 km, parado e revistado 21 pessoas, realizado duas perseguições e dois deslocamentos
de emergência -até na contramão- para atender chamadas
pelo rádio.
(ALESSANDRO SILVA)
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