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SAÚDE
Técnica trata palpitação sem cirurgia
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma técnica não-cirúrgica aplicada nas veias pulmonares que
chegam ao coração consegue resolver mais de 60% dos casos de
fibrilação atrial, a taquicardia que
mais provoca atendimentos especializados em consultórios e
prontos-socorros.
Segundo o chefe do setor de eletrofisiologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Angelo Amato V. de Paola, até 10%
da população com mais de 80
anos tem esse tipo de taquicardia
(batimentos fortes do coração,
palpitações). O percentual de pessoas que não têm melhoras com
remédios chega a 50%. A fibrilação atrial atinge 0,4% da população em geral. "É a solução sem remédios ou procedimentos invasivos", diz sobre o procedimento.
O coração utiliza um sistema
elétrico para conseguir bombear
o sangue.
Pessoas com arritmia cardíaca
têm um distúrbio nesse aparato.
A frequência cardíaca normalmente fica em torno de 60 a cem
batimentos por minuto. A taquicardia é o ritmo rápido, em que o
paciente tem um número de batimentos acima do normal.
Quando o número de batimentos fica abaixo do normal o distúrbio é chamado bradicardia.
O coração que sofre de fibrilação atrial treme. Uma sucessão
desordenada de impulsos elétricos atinge vários pontos do átrio
(uma das câmaras do coração,
onde o sangue é armazenado). Os
batimentos em vários pontos do
músculo geram a "tremedeira" e
o átrio não consegue impulsionar
o sangue. O maior risco é que o
sangue parado coagule e os coágulos "viajem" pela corrente sanguínea, entupindo vasos.
Gatilho
Em 1998 cientistas franceses verificaram que o "gatilho" para o
início da estimulação elétrica desordenada está nas veias pulmonares que chegam ao coração.
Parte da musculatura dos átrios
penetra nessas veias.
Com a descoberta, diversos grupos de cardiologistas passaram a
aplicar a ablação por radiofrequência na junção das veias com o
átrio para corrigir o problema.
A ablação é um procedimento
de correção das áreas com estímulos elétricos anormais feito
com energia de radiofrequência,
aplicada por meio de um cateter.
Ele é introduzido por uma veia da
virilha e, visualizando a imagem
por raio X, o cardiologista guia o
tubo até o coração.
Um estudo feito também por
meio do cateter identifica em qual
das quatro veias pulmonares fica
o "gatilho" da estimulação elétrica anormal. O médico "queima"
as bordas da junção da veia-alvo
com o átrio usando a radiofrequência. A cicatriz da queimadura é uma barreira para a saída do
estímulo elétrico.
Muitas vezes é necessário repetir o procedimento. Segundo o
médico Cézar Eumman Mesas,
que acompanha pacientes da unidade de eletrofisiologia da Unifesp, portadores que não têm histórico de doenças cardíacas têm
mais chances de sucesso.
"É uma técnica recente, mas
muito promissora", diz Eduardo
Sosa, chefe da unidade clínica de
arritmia do Incor (Instituto do
Coração do Hospital das Clínicas
de São Paulo). "Poucos serviços
no país a executam", diz.
De acordo com Sosa, um dos
maiores especialistas em arritmias do mundo, ainda é cedo para falar em cura, uma vez que o
acompanhamento dos pacientes
não tem mais do que três anos.
Em alguns deles a origem da fibrilação atrial está em um outro
problema, como um infarto anterior, que causa cicatrizes no músculo cardíaco e prejudica a condução dos estímulos elétricos. Em
pacientes sem histórico de doença
cardíaca, a causa pode ser uma falha no sistema nervoso.
Alguns conseguem conviver
com os sintomas da fibrilação
atrial. Outros não. Sofrem com
disparos do coração que podem
causar desde falta de ar até desmaios. O vendedor autônomo
João Carlos dos Santos, 44, abandonou as partidas de futebol por
temer as crises. Ele estava dirigindo quando sofreu uma das séries
de palpitações. "Tive um desmaio
e quase causei um acidente." O
vendedor passou pela ablação em
março e não teve mais problemas.
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