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Jovens da Providência foram mortos com 46 tiros, diz IML
Maior parte das balas atingiu as cabeças dos rapazes; dois deles foram torturados
Marcos Paulo Campos, 17, foi o primeiro a morrer, ao tentar fugir; ele foi atingido por balas de fuzil que destruíram parte de sua cabeça
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
Entregue por militares do
Exército a traficantes do morro
da Mineira (zona norte do Rio)
-de acordo com depoimentos
de testemunhas e dos próprios
militares-, Wellington Gonzaga Ferreira, 19, foi morto com
26 disparos de fuzis e pistolas.
David Wilson da Silva, 24, seu
companheiro na volta de um
baile funk, foi baleado 18 vezes.
A terceira vítima, Marcos
Paulo Campos, 17, levou dois tiros. Foi o primeiro a morrer, ao
tentar escapar dos cerca de 20
traficantes que o levavam, e aos
dois amigos do morro da Providência (centro), para o alto da
favela da Mineira. Ao esboçar
uma corrida, foi atingido por
balas de fuzil que destruíram
parte de sua cabeça.
As 46 perfurações foram contabilizadas pelos médicos legistas do IML (Instituto Médico
Legal) de Duque de Caxias
(Baixada Fluminense). Eles
examinaram os corpos dos três
rapazes no fim de semana.
Os corpos foram achados no
sábado no "lixão" de Gramacho, em Duque de Caxias. Chegaram ao depósito a céu aberto
em um caminhão que, horas
antes, recolhera os sacos de lixo
e o entulho da Mineira.
Além das marcas de tiros, os
corpos de Ferreira e de Silva tinham sinais de tortura. Os legistas encontraram ferimentos
cortantes e fraturas. Os cadáveres apresentavam ainda marcas
deixadas pelo triturador de lixo
existente no caminhão.
Os três rapazes foram detidos na manhã de sábado na
praça Américo Brum, no alto
do morro da Providência,
quando saíam do táxi que os levara do morro da Mangueira
(zona norte). Tinham passado a
noite e a madrugada em um
baile funk, acompanhados de
jovens vizinhos.
Os militares que patrulhavam a praça decidiram revistá-los. Houve tumulto. O tenente
Vinícius Ghidetti de Moraes
Andrade, chefe da equipe, resolveu levá-los ao quartel da
Companhia de Comando, perto
de um dos acessos à favela, sob
a acusação de desacato.
Oficial à frente do quartel na
manhã de sábado, o capitão
Ferrari não concordou com a
decisão do tenente e mandou
liberar os jovens. O tenente o
desobedeceu, segundo o próprio admitiu em depoimento.
No comando de três sargentos
e sete soldados, ele disse em depoimento que decidiu entregar
os rapazes aos traficantes da
Mineira, ligados à ADA (Amigos dos Amigos), facção inimiga
do CV (Comando Vermelho),
que atua na Providência.
As investigações da 4ª DP
(Delegacia de Polícia) indicam
que, depois de serem entregues, os rapazes foram levados
sob pancada para o alto da Mineira. Desesperado, Campos,
que era estudante, foi morto ali
mesmo, ao tentar fugir.
Os traficantes, antes de dispararem, agrediram os outros
dois rapazes com porretes de
madeira e barras de ferro. Eles
também foram cortados, possivelmente com facões, na cabeça e nos braços. Ao final da tortura, Ferreira e Silva foram alvejados, a curta distância. A
maior parte das balas atingiu as
cabeças das vítimas.
Segundo os investigadores,
Ferreira foi identificado pela
quadrilha da Mineira como integrante do tráfico da Providência. Decidiram, então, matá-lo e ao colega, que, embora
não tenha sido reconhecido, foi
considerado também traficante, pois acompanhava Ferreira.
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