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Arquitetos defendem reconstrução do projeto de Rino Levi
Desenho original do Teatro Cultura Artística está arquivado na FAU, a faculdade de arquitetura e urbanismo da USP
Professores ressaltam dois
aspectos da importância
histórica e cultura do teatro,
a acústica e a presença do
mosaico de Di Cavalcanti
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
Projetado por Rino Levi, o
teatro Cultura Artística, destruído num incêndio de causa
ainda desconhecida neste fim
de semana, pode ser reconstruído, na avaliação de especialistas no legado da obra do expoente e um dos precursores da
arquitetura moderna no Brasil.
O projeto original está arquivado na FAU, a Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da
USP, segundo Lúcio Gomes
Machado e Renato Anelli, dois
dos maiores estudiosos brasileiros da criação de Levi, com livros e teses publicados.
Para Anelli, coordenador do
programa de arquitetura e urbanismo da USP-São Carlos, a
arquitetura moderna não tem
"preciosismos" do ponto de vista da manufatura da produção,
que dificultariam a reconstrução do prédio. "O teatro poderia ser reconstruído, com algumas adaptações para condições
mais contemporâneas, desde
que feito com cuidado e que sejam preservados seus pontos
principais, que são a volumetria e o mosaico", diz.
Machado, professor da FAU
e ex-conselheiro do Conpresp e
do Condephaat, órgãos de proteção do patrimônio histórico,
afirma que "é preciso lutar para
que o Cultura Artística seja
reconstruído".
"Tem de reconstruir o teatro
porque ele em si é muito importante. A construção não depende de artesão, que seria o
empecilho maior", completa.
"Além de reconstruído, o teatro pode ser modernizado", diz
o arquiteto Paulo Bruna, também professor da USP e ex-estagiário do próprio Rino Levi.
Os três arquitetos ressaltam
dois aspectos da importância
histórica e cultural do teatro: a
acústica e o mosaico na fachada, obra de Di Cavalcanti.
"No teatro, Rino desenvolveu
um jeito de projetar as paredes,
o teto, com a acústica. Foi a primeira vez que se fez um teatro
com novas técnicas de cálculo
de acústica e visibilidade da
platéia", diz Anelli.
"O Cultura Artística, para a
época, era muito avançado. A
acústica era perfeita, muito
boa, mas a cobertura era de madeira. Por isso pegou fogo",
completa Machado.
Patrimônio
Segundo o Condephaat, o
teatro estava em estudo de
tombamento desde 1995, mas o
prédio já estava sob proteção
provisória e qualquer mudança, mesmo a pintura de uma parede, precisaria de permissão.
O Condephaat, que diz não
saber informar o que vai ocorrer após o incêndio, afirma que
não havia previsão para oficializar o tombamento. Apesar
disso, os bens culturais mais
importantes de São Paulo entraram na proteção do Plano
Diretor. Na próxima segunda, o
conselho se reúne e é possível
que a discussão sobre a destruição do teatro entre em pauta.
Para Machado, a reconstrução pode ser questionada por
arquitetos "puristas", que classificariam o novo teatro de "falso". "Não tem isso. É um objeto
da indústria. Antigo ou novo,
ele vai ser o mesmo. Não tem
nenhuma idéia de tratamento
artesanal e artístico."
"A riqueza do Cultura Artística é uma interpretação nova
de teatro, que não tinha, é original. Temos de lutar para que seja reconstruído", completa.
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