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Palco recebeu de Dercy Gonçalves a Villa-Lobos
Sociedade de Cultura Artística dá ênfase especial à música erudita nas atividades que promove desde 1912
Villa-Lobos e Camargo Guarnieri regeram suas próprias composições na inauguração do teatro Cultura Artística, em 1950
IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Implacável, o incêndio de domingo no Cultura Artística devorou um dos palcos mais representativos da cena musical e
teatral paulistana. Josephine
Baker, Fernanda Montenegro,
Jô Soares e Daniel Barenboim
são alguns dos nomes que passaram pela casa, em suas cinco
décadas de existência.
A Sociedade de Cultura Artística promove atividades desde 1912, com ênfase especial
(mas não exclusiva) na música
erudita -paradigma de excelência, sua série de assinaturas
é a mais prestigiosa da cidade.
Alguns espetáculos, especialmente envolvendo grandes orquestras, podiam acontecer no
Teatro Municipal ou na Sala
São Paulo -para onde deve ir o
restante da temporada, enquanto a entidade decide se irá
reformar ou reconstruir a sede.
Mas a alma da programação
ocorria na sala Esther Mesquita, de 1.156 lugares, de uma versatilidade que lhe permitia
abrigar praticamente todo tipo
de espetáculo musical, desde o
intimismo do cravo solo de
Gustav Leonhardt até a sonoridade luxuriante das filarmônicas de Nova York e Leningrado.
O teatro, que funcionava como sede da própria da entidade, foi inaugurado em 1950,
com os dois mais célebres compositores brasileiros daquele
período, Camargo Guarnieri
(1907-1993) e Heitor Villa-Lobos (1887-1959), regendo suas
próprias composições.
Seria fastidioso enumerar os
artistas internacionais que pisaram seu palco desde então.
Longa, a lista coincidiria com
os mais importantes nomes da
música que visitaram São Paulo
no período, do piano de Nelson
Freire ao violoncelo de Mstislav Rostropovich, passando pelo violão de Andrés Segovia e
pela batuta voz de Cecília Bartoli para não ir muito longe.
Alugado, nos anos 1960, para
a TV Excelsior, e sede, na década de 1970, da Osesp (então
chefiada por Eleazar de Carvalho), o Cultura Artística também teve papel preponderante
na cena teatral, desde o primeiro espetáculo por lá encenado
-"O Fundo do Poço", de Helena Silveira e Jamil Almansur
Haddad, com Itália Fausta e
Maria Della Costa, em 1950.
Na década inicial do teatro, o
pequeno auditório (sala Rubens Sverner, de 339 lugares)
foi tomado de assalto por Dercy
Gonçalves, com comédias como "Vinde Ensaboar Vossos
Pecados", de Nelson Rodrigues.
Paulo Autran foi presença
constante, desde "Um Deus
Dormiu Lá Em Casa", com Tônia Carrero (1950), até seu derradeiro espetáculo, "O Avarento", de Molière, com Felipe
Hirsch (2006).
A casa abrigou ainda espetáculos de grande sucesso nos
anos 1980, como "Piaf", com
Bibi Ferreira. Isso para não falar nos destaques estrangeiros,
como o mímico Marcel Marceau. O fogo encerrou, abruptamente, a temporada de "O Bem
Amado", que trazia outro nome
que se fez ver com freqüência
na casa: Marco Nanini.
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