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MULHERES NO COMANDO
Em São Paulo, quatro tenentes-coronéis vencem barreiras e quebram a hegemonia masculina à frente de batalhões da corporação
O poder feminino na Polícia Militar
ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
"A senhora é a nova comandante do batalhão?", pergunta um antigo sargento da unidade, curioso
com a presença, no quartel, de
uma mulher com três estrelas de
tenente-coronel nos ombros -a
penúltima patente na carreira da
Polícia Militar. "Sou sim. Por
quê?", diz a oficial. "Nossa, em 20
anos de polícia eu nunca tinha
visto uma mulher comandando
um batalhão."
Na parede do gabinete, a causa
do espanto: 25 quadros com os
rostos de ex-comandantes, todos
homens, presenciavam a cena. No
centro das atenções, a tenente-coronel Ângela Di Márzio Godoy
Vasconcelos, 40, a 26ª oficial à
frente do 13º BPM (na região central da capital), e a primeira mulher no cargo em três décadas.
A coronel Ângela, como a chamam na PM, é de uma geração de
oficiais que nos últimos três anos
começou a escrever uma nova página sobre a participação feminina na corporação: nunca tantas
mulheres estiveram à frente de
tantos batalhões de área como
neste ano, cuidando do policiamento ostensivo e preventivo em
todas as suas modalidades.
Dos 83 batalhões de área, elas lideram homens e mulheres em
quatro -um a mais do que no
ano passado. Além do 13º BPM,
comandam hoje o 30º BPM
(Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra), o 34º BPM (Centro
de SP) e o 23º BPM (Pinheiros).
Há 48 anos, quando da criação
do corpo de policiamento feminino em São Paulo -o primeiro no
país-, parecia impossível atingir
tal posição. Havia apenas 13 policiais femininas no Estado em
1955, que atuavam mais como assistentes sociais do que no combate a criminosos.
Avanços
De lá pra cá, muita coisa mudou. Hoje, elas estão em todas as
unidades da PM e em número recorde: são cerca de 8.200, o equivalente a 9% do efetivo total da
corporação (91 mil). "O espaço foi
conquistado aos poucos, à medida em que [o policiamento feminino] ia mostrando dar certo", diz
a tenente-coronel Marly Moreno,
42, comandante do 23º BPM desde abril.
Para ilustrar, a coronel conta
uma história. Aconteceu no início
dos anos 90, quando as PMs começaram a patrulhar a capital de
carro. Em regra, elas deveriam
cuidar apenas de ocorrências selecionadas pelo Copom (Centro de
Operações da PM), mais brandas,
liberando os homens para casos
graves. Na prática, porém, começaram a atender o que aparecia
pela frente.
Certo dia, duas PMs encontraram um homem cuja moto havia
sido roubada. Na delegacia, mais
tarde, a vítima disse à coronel
Marly, que apoiou a ação: "Quando elas [PMs] chegaram, pensei:
De que me adianta ter chamado a
polícia se me mandaram duas
mulheres?"
O tom não era de queixa, mas de
surpresa. Depois de pegar as características do ladrão, as policiais
o prenderam perto dali.
Última barreira
Avanços à parte, o processo de
abertura ainda não está completo:
por lei, elas ainda não podem chegar ao posto de comandante-geral. Até dois anos atrás, quando
havia um regimento disciplinar
distinto, as mulheres PMs não podiam fumar fardadas, diferentemente dos homens. Hoje, o código de conduta está unificado.
Enquanto as portas não se
abrem completamente, elas continuam a registrar avanços simbólicos. Das quatro atuais comandantes, a tenente-coronel Fátima
Ramos Dutra, 38, foi a primeira a
fundar um batalhão (30º BPM),
após a unificação dos efetivos femininos e masculinos, em 2000.
Antes, as unidades eram separadas e atuavam paralelamente.
De fala tranquila e sotaque do
interior, essa paulistana de 1,58 m
de altura coordena diariamente o
trabalho de 500 PMs em Mauá,
Ribeirão Pires e Rio Grande da
Serra, na Grande São Paulo, onde
vivem 570 mil pessoas. Neste mês,
interinamente, ela está à frente do
CPAM-6 (Comando de Policiamento de Área Metropolitano),
responsável pelas cidades de Santo André, Diadema, São Bernardo, São Caetano e Santo André,
além dos seus três municípios.
Fátima segue os passos da coronel Laudinéa Pessan de Oliveira,
que em 2000 tornou-se a primeira
a mulher, em 169 anos de história
da PM, a chefiar um CPA, ao qual
estão subordinados vários batalhões na zona sul da capital. A coronel ocupa atualmente a diretoria do Departamento de Assuntos
Municipais e Comunitários.
A última comandante das quatro que coordenam batalhões
operacionais é a tenente-coronel
Virginia Maria Vilani Malone Ortega, 39, que assumiu em abril o
34º BPM. Está sob a responsabilidade dela o recém-criado policiamento nas cabines instaladas pela
PM na avenida Paulista.
É a segunda passagem da coronel pela função. Em 2000, ela comandou por seis meses o 28º BPM (Guaianazes), na zona leste da capital, uma região problemática em relação à violência.
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