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MULHERES NO PODER
Mulheres acima de tudo
DA REPORTAGEM LOCAL
Nem a sisudez de um comando
linha-dura, nem a fragilidade de
uma chefia mais permissiva. Todas as quatro tenentes-coronéis
que comandam batalhões de área
em São Paulo se definem como
moderadas.
"Justa. Não há outra palavra",
afirma a tenente-coronel Virginia
Maria Vilani Malone Ortega, 39,
comandante do 34º BPM.
"Os dois extremos são condenáveis", completa a tenente-coronel
Ângela Di Márzio Godoy Vasconcelos, 40, do 13º BPM.
"Procuro ser clara no que quero, para que ninguém aja e depois
venha me dizer que não sabia",
diz a tenente-coronel Marly Moreno, 42, do 23º BPM.
"Precisamos seguir a legislação
e o regulamento acima de tudo",
afirma a tenente-coronel Fátima
Ramos Dutra, do 30º BPM.
As quatro entraram na polícia
como soldados e, por meio de
concursos, chegaram ao penúltimo posto da carreira, diferentemente de parte dos oficiais homens, que já começam na profissão como tenentes -o primeiro
posto dos que são formados na
Academia do Barro Branco.
Do quarteto de "coronéis de
saias", duas são casadas com PMs
-um deles de patente inferior,
capitão- e três optaram por não
ter filhos por questões pessoais e
profissionais -passam mais
tempo no quartel do que em casa.
Na profissão, dizem nunca ter
sofrido discriminação. E aonde
pretendem chegar? Aonde for
possível. Se uma vaga de coronel
fosse aberta hoje, duas delas poderiam ocupá-la: Fátima e Marly,
por já terem completado o curso
superior de polícia, obrigatório
para a promoção.
Todas são vaidosas. Usam cabelos curtos, batom e brincos. Para
as fotos da Folha, preferiram posar com uniforme operacional
-o usado na rua-, com arma na
cintura, atentas a todos os detalhes do equipamento e a gestos.
Perfis
O pai da então bancária Marly
Moreno achava que polícia não
era coisa para mulheres até vê-la
fardada, aos 19 anos, na escola de
soldados. "Meu pai passou a andar com uma foto minha fardada
na carteira, e mostrava para todo
mundo", conta a tenente-coronel.
Na PM, estudou direito e educação física. Seu batalhão, no mês
passado, prendeu um homem
acusado de atacar mulheres na
saída de shoppings da capital.
A tenente-coronel Virginia Ortega é a única que teve filhos. O
marido é capitão. Quando se conheceram, ele era sargento e ela
cabo -abaixo dele na hierarquia.
"Falo que ele investiu bem", diz.
Bem-humorada, prestou concurso por causa de uma amiga,
que hoje é capitão da PM. Antes
de assumir o 34º BPM, a coronel
estava na assessoria militar da
Prefeitura de São Paulo, com a
prefeita Marta Suplicy.
A tenente-coronel Fátima é a
única filha de PM. "Achava linda a
farda dele", conta. O pai se aposentou como segundo tenente. A
mais nova de quatro filhos, a coronel tem uma irmã PM, que hoje
é sargento. Católica, Fátima prefere ficar em casa a sair à noite. Gosta de livros de auto-ajuda. O marido acabou de ser promovido a tenente-coronel. Quando se conheceram, os dois eram capitães.
A tenente-coronel Ângela,
evangélica, é a mais religiosa. O
marido, professor de educação física, virou pastor depois de se recuperar de um câncer.
Filha de imigrantes -três dos
seus seis irmãos nasceram na Itália-, Ângela afirma ter entrado
na profissão por causa da estabilidade. Era secretária na época.
Em 84, quando ainda era soldado, um homem de 30 anos, sob
efeito de drogas, tentou agredi-la
dentro da catedral da Sé. Sem arma ou cassetete, pois as policiais
não usavam, os dois rolaram por
quase dez minutos no chão, "na
frente de homens que não se sensibilizaram em ajudar", recorda.
Com um golpe que aprendeu na
escola, ela derrubou o agressor e o
imobilizou, depois de levar uma
mordida no braço, cuja marca
existe até hoje.
"Era uma questão de honra.
Não podia deixá-lo fugir, até para
poder ir trabalhar de novo."
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