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URBANISMO
Comerciantes se mobilizam para reurbanizar corredores de lojas
Ruas comerciais mudam para enfrentar shoppings
LUIZ CAVERSAN
DA REPORTAGEM LOCAL
No lugar de calçadas estreitas e
esburacadas, pisos amplos, lisos e
confeccionados em material de
qualidade, com guias rebaixadas
nas esquinas, espaço para mesinhas e conforto para os passantes.
Em vez de árvores mirradas e sufocadas pela poluição e pelo emaranhado de fios, variedades de vegetação apropriada para sobreviver no espaço urbano. Para completar o cenário, fachadas revitalizadas, iluminação atraente e novos equipamentos urbanos.
Em linhas gerais, essas são as
"armas" que os comerciantes da
cidade de São Paulo querem empregar para tentar reverter o processo de deterioração de tradicionais corredores comerciais, que
têm perdido a disputa por clientes
para os shoppings centers.
As intervenções urbanísticas
propostas devem ser viabilizadas
por uma parceria com a Prefeitura de São Paulo. Já estão em andamento as negociações sobre pelo
menos 11 pontos da capital, sendo
que, em três casos, as conversas já
estão bem adiantadas: são as ruas
João Cachoeira (Itaim Bibi, zona
oeste), Oscar Freire (Jardins, oeste) e 25 de Março (centro).
Basicamente, o processo é este:
comerciantes de determinada região se organizam, desenvolvem
projetos de revitalização em conjunto com escritórios de arquitetura e/ou urbanismo, fazem o levantamento dos custos, buscam
financiadores e apresentam o
"pacote" à prefeitura.
A administração municipal, por
sua vez, submete o projeto a avaliações técnicas dos setores envolvidos (sistema viário, iluminação
pública, ambiente, por exemplo)
e apresenta eventuais restrições.
Selado o acordo, o gerenciamento
das obras fica por conta do setor
público e os custos são rateados
conforme o que for acordado.
Primeiro da lista
O primeiro projeto a ser executado é o da João Cachoeira: a rua
deverá ostentar seu novo visual já
no final do ano. De acordo com
Felippe Naufel, presidente da associação dos lojistas da rua, a necessidade de modificações foi
apontada por uma pesquisa com
frequentadores das lojas e de
shoppings da região. "Alguma
coisa estava errada, porque estávamos perdendo clientes. A pesquisa indicou que o consumidor
quer um lugar agradável e ele é
mal assistido em nossa rua. Queremos mudar isso."
Para tanto, o trecho entre a rua
Jesuíno Arruda e a Leopoldo Couto de Magalhães -140 lojas e público de mais de 10 mil pessoas
por dia- vai levar um "banho"
que inclui mudança da pista de
rolamento, do piso e do desenho
da calçada (ganhará as cores vermelha, amarela e cinza e ficará
mais larga nas esquinas), troca da
iluminação e instalação de luzes
voltadas para o pedestre, plantio
de pés de pitanga e araçá e instalação de bancos. O custo da obra
deverá ficar entre R$ 1 milhão (estimativa da prefeitura) e R$ 2 milhões (previsão dos lojistas).
Apesar de estar com os projetos
bem evoluídos, a reurbanização
das ruas Oscar Freire e 25 de Março ainda vai demandar muito trabalho. O primeiro (voltado para o
público sofisticado), pelo custo da
intervenção e seu financiamento;
o segundo, que envolve comércio
popular, pelo porte -não apenas
das reformas físicas, mas da intervenção em questões problemáticas como grande trânsito, grande
volume de transeuntes e camelôs.
Em comum, e apesar das diferenças, Oscar Freire e 25 de Março
têm os mais altos preços de locação comercial da cidade, excetuando-se os shoppings: o aluguel
do imóvel pode atingir R$ 150 por
metro quadrado, contra R$ 60 da
João Cachoeira ou R$ 70 da avenida Cidade Jardim, por exemplo.
Entraves
Na Oscar Freire, a idéia dos lojistas é inaugurar a obra em 25 de
janeiro, dia em que São Paulo faz
450 anos. Mas há muito o que fazer. Primeiro, obter financiamento para os R$ 7 milhões que devem ser gastos - além do trecho
mais badalado da Oscar Freire,
estão previstas intervenções em
ruas adjacentes, como Bela Cintra, Lorena e Haddock Lobo, mas
a prefeitura diz que apenas as da
Oscar Freire estão aprovadas.
Depois, conseguir que a Eletropaulo aceite a proposta de remover os postes das calçadas, como
previsto no projeto -a empresa
informa que tem uma reunião
marcada com os lojistas, mas que
nada está decidido. E finalmente
fazer com que a reformulação das
calçadas, a colocação de lixeiras e
bancos, a instalação de câmeras
de segurança, a troca da iluminação e o plantio de árvores ocorram dentro do prazo previsto.
"Nós queremos que as pessoas
tenham na rua o mesmo conforto
e sofisticação que encontram dentro das lojas", afirma Fábio Saboya, que atua na organização dos
lojistas criada para tocar o projeto. "O cliente não pode ser recebido com cafezinho e champanhe
na loja e andar numa calçada esburacada e mal iluminada."
Segundo Saboya, a região que
tem a Oscar Freire como epicentro mantém 600 pontos comerciais (100 deles de grifes internacionais), por onde circulam quase
20 mil pessoas por dia.
Na 25 de Março e adjacências,
tradicional zona de comércio popular e atacadista, que surgiu na
região por intermédio dos negociantes de origem árabe, a situação é muito mais complicada,
conforme demonstram os números: são 300 lojas de ruas, sete edifícios abrigando mais de 2.000 estabelecimentos, 3.000 camelôs,
tráfego intenso de veículos e um
público flutuante que varia de 400
mil a um milhão de pessoas no pico do final do ano.
Segundo o arquiteto Hector Vigliecca, cujo escritório elaborou
os projetos da Oscar Freire e da 25
de Março, neste último caso "há
um número muito grande de atores que devem ser incluídos, estabelecendo-se espaços adequados para o vendedor formal, o informal e o comprador".
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