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Para analistas, só mudar a lei não reduz acidentes
DA REPORTAGEM LOCAL
Especialistas em transporte
urbano ouvidos pela Folha foram unânimes ao comentar a
proposta de alteração do código de trânsito: alterar a lei não
será suficiente para reduzir
acidentes se não houver investimento em fiscalização.
"São medidas importantes,
mas talvez haja uma distorção
de foco. O esforço em mudar a
lei não vem acompanhado de
um esforço para aumentar a
fiscalização", diz o professor
especialista em segurança no
trânsito da Universidade de
Brasília, Paulo César Marques.
Desde o surgimento do código de trânsito, há dez anos, diz
Marques, o efetivo da Polícia
Rodoviária Federal se manteve
o mesmo. E o órgão ganhou
mais atribuições, como a fiscalização do tráfico de drogas e de
armas e da prostituição infantil. "Mas a frota de veículos
cresceu [proporcionalmente]
mais que a população", diz.
Marques diz que as leis de
trânsito brasileiras são tão rígidas quanto na Inglaterra, França e Austrália. "A diferença está
na capacidade de fiscalizar."
O consultor de transportes
Luiz Célio Bottura lamentou o
projeto. "Não é preciso mexer
na lei para aperfeiçoar o que
ainda nem foi totalmente testado", diz Bottura. O código
ainda tem trechos pendentes
de regulamentação, que nem
sequer entraram em vigor.
Para Bottura, faltaram propostas para educação dos motoristas. "Muitos não têm a menor noção sobre legislação de
trânsito", diz o consultor, para
quem "a melhor medida de
educação é o talão [de multas]".
Os especialistas se mostraram pouco otimistas em relação à possibilidade de que as
mudanças venham acompanhadas de incremento da fiscalização, como vem ocorrendo
em relação à lei seca em algumas cidades.
"Pode até acontecer durante
algum tempo, mas sou contra
essa idéia de que a lei precisa
ser agravada para ser cumprida", afirma o vice-presidente
da Associação Nacional dos
Transportes Públicos, Cláudio
de Senna Frederico.
Medida a medida, entretanto, o pacote recebeu elogios, sobretudo com relação ao reajuste dos valores das multas, ao
aumento do rigor em relação
ao uso de celulares e à fiscalização de rachas.
Mas a falta de alguns itens foi
questionada. "Onde está a proibição ao tráfego de motos nos
corredores entre os carros?",
disse o consultor Flamínio
Fichmann. "É uma irresponsabilidade. Elas são as que mais
se envolvem em acidentes."
(RICARDO SANGIOVANNI)
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