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Passageiros cochilam e reclamam de música clássica em trens da CPTM
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Cinco pessoas dormem às
15h de uma quarta, embaladas pelo sol dourado que entra pelos vidros; pela brisa do
ar-condicionado e mais ainda
pelos violinos de Vivaldi que
emanam dos alto-falantes. O
cenário ganharia um ar europeu, não fosse o cheiro de esgoto do rio Pinheiros, que se
vê pela janela, na maior parte
da viagem do Grajaú, zona sul
de São Paulo, até Osasco, seguindo nos trens, esses sim
europeus, da linha 9.
"A CPTM deseja a todos
uma boa viagem", anuncia o
maquinista, antes que o trem
comece a deslizar, seguido
pelo início imediato da música, dessa vez uma valsa de
Chopin num volume um pouco mais baixo; que "ajuda no
sono, ô se ajuda", diz o porteiro Carlos Pereira Santos.
Pois nem todos estão contentes com a música. De janeiro a junho deste ano, o serviço de atendimento ao usuário da CPTM registrou 66 reclamações especificamente
por causa da música. "Os caras vão na cabine xingar a
gente, perguntando se não dá
pra trocar a música", disse
um maquinista.
Com seu fone de ouvido, a
zeladora Maria de Lourdes
Rodrigues, 50, se previne com
sertanejo. "A do trem é uma
música chatinha, xarope
mesmo", diz. A estagiária
Meirilane Clara Santos, 21,
também prefere a música do
seu fone de ouvido.
Daniel Santos, 39, até gosta
da música no trem, mas faz
uma ressalva: "Podia ter música popular que a gente entendesse, e cantada -porque
só tocada não dá para as pessoas acompanharem".
Mal sabe ele que a chance
de aparecerem cantores de
axé e pagode são remotas,
desde que o ECAD (Escritório Central de Arrecadação e
Distribuição) descobriu que
os trens da linha 9 tocam
(desde 1998) músicas diversas (axé, MPB, pagode, tudo)
sem pagar direitos autorais. A
CPTM foi multada em R$
122.815 e os trens ficaram
sem música de 2005 a 2007,
quando a empresa voltou a
sonorizar a linha 9, mas com
"tudo regular", diz a assessora
da presidência da CPTM, Ana
Cândida Sammarco.
Desde então, o repertório
se restringe a "coleções completas dos maiores compositores da música clássica, como Mozart, Bach, Vivaldi e
outros". Segundo Sammarco,
a clássica foi escolhida por ser
o estilo "mais ambiente possível, que irritasse o menos
possível".
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