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Aqueduto secular é redescoberto no Rio
A 350 m de altitude, obra abasteceu pioneira fábrica de tecidos; mata escondeu todo o sistema, inclusive a trilha de acesso
Mesmo abandonada, obra está conservada; descoberta foi feita por dirigentes de ONG, com ajuda de
ex-funcionário da fábrica
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
Desaparecido em meio à floresta virgem no alto da serra do
rio da Prata (zona oeste do Rio),
a 350 m de altitude, um aqueduto de cem anos que abasteceu a pioneira fábrica de tecidos Bangu foi localizado neste
ano por exploradores e vistoriado em junho por técnicos do
Iphan (Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional).
O aqueduto é formado por
duas represas, um reservatório
de pedras com capacidade de
armazenar até 550 mil litros,
calhas e tubulações de ferro
fundidas na Inglaterra e que seguiam por 7,5 km até as proximidades da fábrica, por cima da
copa das árvores, a 20 m do solo, em alguns trechos.
Com a chegada de água encanada à indústria, no século passado, o aqueduto foi desativado. Não houve preocupação de
preservar o lugar, nem por parte das autoridades municipais e
estaduais nem pela direção da
fábrica. A mata cobriu tudo, até
a trilha de acesso a partir da localidade de rio da Prata.
Com o passar dos anos, consolidou-se o abandono da rara
estrutura de captação e distribuição de água para a fábrica,
origem da urbanização de parte
da zona oeste carioca.
Não eram conhecidos nem
mapas que indicassem a localização do aqueduto, obra de engenharia grandiosa por levar,
há mais de cem anos, maquinários pesados e em grande quantidade ao coração do maciço da
Pedra Branca, ponto mais alto
do município do Rio, a 1.024 m
em relação ao nível do mar.
Redescoberta
Coube a dois dirigentes da
ONG (organização não-governamental) SOS Floresta da Pedra Branca a façanha de descobrir, em bom estado, mas
ameaçado por saqueadores, o
aqueduto inaugurado em 1908.
Excursionistas experientes,
desde 1974, do Parque Estadual
da Pedra Branca, o apicultor
Adilson Antônio de Lacerda,
69, e o guia Aldo Pedro Leal, 54,
costumam percorrer o maciço
para vistoriar açudes e reservatórios que possam vir a ser
aproveitados como pontos de
abastecimento de helicópteros
no combate a incêndios florestais, comuns na região.
Pesquisas em documentos
antigos do acervo da ONG revelaram a existência no passado
de duas represas que captavam
a água dos rios da Prata e Virgem Maria para o abastecimento da fábrica Bangu. Faltava a
eles, no entanto, uma indicação
precisa do local.
A dupla subiu a serra do rio
da Prata várias vezes, mas fracassou na busca ao reservatório. Chegaram a imaginar que
nada mais restava até que, em
uma trilha, encontraram Higino Nunes de Castro, 65.
Explicaram a ele o que buscavam. Surpreenderam-se com a
resposta: Castro foi por 40 anos
administrador do reservatório,
contratado pela fábrica. Levou-os até o local.
Mesmo com o fechamento da
empresa, em 2005, e a aposentadoria como servente, manteve o hábito diário de subir a serra até o reservatório. Chega
bem cedo, cuida dos cachorros
e pássaros que cria em um casebre, e desce ao final da tarde.
Embora em completo abandono, a estrutura de alvenaria
das represas e do reservatório
está preservada, já que, na
construção, supervisionada pelo especialista francês Joan Vidal, a Companhia Progresso Industrial do Brasil (dona da fábrica) empregou enormes blocos de pedra, cortados todos no
mesmo tamanho e até hoje solidamente encaixados.
O mato tomou conta do leito
do reservatório, esvaziado anos
atrás por Castro, já que a água
parada atraía mosquitos.
Com 5 m de profundidade, 10
m de largura e 12 m de comprimento, o reservatório levava,
por dia, 5,2 milhões de litros de
água à fábrica.
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