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SAÚDE / COLESTEROL
Uso de remédios em crianças com colesterol alto é polêmico
Médicos americanos liberam drogas preventivas para crianças acima dos oito anos
Pediatras brasileiros indicam medicamentos a partir dos dez anos, mas só para crianças que sofram de hipercolesterolemia familiar
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Tratar ou não com remédios
crianças que tenham níveis altos de colesterol? Essa questão
está dividindo a opinião de médicos desde que a Academia
Americana de Pediatria (AAP)
decidiu, há duas semanas, que
sim, os pequenos acima de oito
anos devem ser medicados com
drogas que reduzam o colesterol (estatinas) para prevenir
doenças cardíacas.
Um pouco mais conservadores, os pediatras brasileiros indicam medicamentos a partir
dos dez anos, mas apenas para
crianças com uma doença genética chamada hipercolesterolemia familiar, que eleva os
níveis de colesterol, independentemente do estilo de vida.
Para as demais, eles defendem
uma dieta equilibrada associada a exercícios físicos.
A cautela tem justificativa,
segundo o pediatra Paulo Solberg, do departamento de endocrinologia da Sociedade Brasileira de Pediatria. Não existem dados a longo prazo sobre
o uso das estatinas em crianças
nem estudos mostrando que,
usando a medicação precocemente, elas estarão mais protegidas do que aquelas que iniciaram a terapia na vida adulta.
Nicolas Stettler, professor
assistente de epidemiologia pediátrica do Hospital Infantil da
Filadélfia (EUA), que participou das novas diretrizes americanas, diz que há dados com níveis de segurança adequados
para justificar as medidas.
"Sabemos que, em adultos,
diminuir o colesterol e administrar algumas dessas drogas
reduz o risco de doenças cardíacas e morte. Então não há
razão para pensar que seria diferente com crianças", afirma.
O médico Álvaro Nagib Atallah, professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e diretor do Centro Cochrane do Brasil, discorda. Para ele,
não há evidências de que o uso
dessas drogas na infância, mesmo que reduzam colesterol, diminuam os riscos de doenças
cardiovasculares na meia idade
ou em qualquer outra época da
vida. "O tratamento a longo
prazo me causa arrepio."
Já o cardiologista do InCor
(Instituto do Coração) Raul
Dias dos Santos avalia que os
estudos disponíveis mostram
que, tratando as crianças com
hipercolesterolemia familiar
precocemente, consegue-se diminuir a progressão da aterosclerose [uma doença inflamatória crônica da parede das artérias]. "Mas não necessariamente significa que vamos conseguir prevenir um infarto
quando essas crianças se tornarem adultas", explica.
Ele defende o uso das estatinas, a partir dos dez anos, em
crianças que sofrem de hipercolesterolemia. "Nessas pessoas, você não consegue abaixar o colesterol com perda de
peso ou mudança na dieta."
Uma outra preocupação de
Paulo Solberg é que, medicando as crianças, elas deixem de
lado as mudanças no estilo de
vida necessárias para prevenir
as doenças cardiovasculares.
"O medo é que elas só tomem o
comprimido e não façam o controle alimentar e os exercícios."
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