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No Grande Rio, 1 em cada 4 moradores já foi vítima de crime
Pesquisa mostra que 56% não confiam na PM e que maior medo é ser vítima de uma bala perdida no bairro onde vive
Levantamento do Instituto de Segurança Pública foi feito diretamente com a população, no ano passado, e analisou 12 tipos de crimes
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Mais de um quarto (26%) da
população da região metropolitana do Rio foi vítima recentemente de pelo menos um entre
12 crimes analisados a partir de
um estudo divulgado ontem
pelo ISP (Instituto de Segurança Pública) do Estado.
O levantamento mostra também que mais da metade (56%)
dessa população não confia na
Polícia Militar e que o maior
medo, citado por 57% dos entrevistados, é ser vítima de uma
bala perdida em seu próprio
bairro. O segundo maior medo
é estar no meio de um tiroteio
(43,5%).
A pesquisa de vitimização foi
realizada em 2007 e seu principal diferencial foi investigar diretamente com a população os
crimes dos quais ela foi vítima.
Os balanços tradicionais das
secretarias de segurança pública pegam apenas crimes registrados nas delegacias, deixando
de fora incidências em que a
pessoa não registrou boletim
de ocorrência.
O cálculo dos 26% da população vítima de algum crime foi
feito pelo sociólogo Michel
Misse, da UFRJ (Universidade
Federal do Rio de Janeiro), um
dos consultores convidados pelo instituto para participar da
pesquisa.
Taxa elevada
Em seu trabalho, Misse selecionou crimes de furto, roubo,
estelionato, ameaça, agressão e
ofensa sexual relatados pelos
entrevistados nos 12 meses anteriores à pesquisa.
"Trata-se de uma taxa de vitimização muito elevada para
um período de 12 meses. Para
se ter uma idéia, em alguns países europeus, essa taxa é de
30% a 32% para um período de
cinco anos", afirmou.
A pesquisa permite também
verificar quantos dos crimes foram, segundo a população, registrados na delegacia.
O percentual é alto no caso
de furtos (91%) ou roubos de
veículos (78%), bens de maior
valor e cujo registro na delegacia é exigido por companhias
seguradoras. Na maioria dos
outros crimes, no entanto, fica
sempre abaixo ou próximo de
40% do total.
De acordo com o sociólogo, o
que mais surpreende não é o alto percentual de subnotificação, comum em vários países
onde esse tipo de pesquisa é feita. O que ele destaca é o fato de
o número de crimes que as pessoas disseram ter registrado na
delegacia ser muito maior, na
comparação do mesmo período, que as estatísticas oficiais
dos mesmos crimes.
Uma das hipóteses que ele levantou para explicar o fato é
que a pessoa pode efetivamente
ter ido à delegacia, mas os policiais podem não ter registrado
a queixa.
Outra possibilidade para essa
discrepância é que, num assalto
dentro de um ônibus, é feito
apenas um registro policial,
mas várias pessoas podem ter
sido vítimas.
Confiança
Para o tenente-coronel Mário Sérgio Duarte, diretor-presidente do Instituto de Segurança Pública, a pouca confiança da população na Polícia Militar não deve servir de desestímulo para a corporação.
"Temos que fazer todos os
esforços para conquistar ou reconquistar a confiança da população, produzindo melhores
serviços."
Vanessa Campagnac, uma
das organizadoras da pesquisa,
diz que o percentual maior de
desconfiança em relação à PM
deve-se também ao fato de esta
corporação estar mais presente
nas ruas, enquanto a Polícia Civil (cujo percentual dos que não
confiam cai para 43%) realizar
um trabalho menos ostensivo.
Sobre o medo das pessoas de
serem atingidas por uma bala
perdida, o sociólogo Gláucio
Soares, outro dos especialistas
convidados pelo ISP a interpretar os dados, afirma que o sentimento do medo nem sempre
está relacionado ao risco real.
"Isso se vincula com a absoluta imponderabilidade da bala
perdida. O mesmo acontece
com o latrocínio, que responde
por apenas 5% dos homicídios,
mas as pessoas sentem muito
mais medo. Não há relação entre medo e risco", disse Soares.
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