São Paulo, quarta-feira, 20 de agosto de 2008

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No Grande Rio, 1 em cada 4 moradores já foi vítima de crime

Pesquisa mostra que 56% não confiam na PM e que maior medo é ser vítima de uma bala perdida no bairro onde vive

Levantamento do Instituto de Segurança Pública foi feito diretamente com a população, no ano passado, e analisou 12 tipos de crimes

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

Mais de um quarto (26%) da população da região metropolitana do Rio foi vítima recentemente de pelo menos um entre 12 crimes analisados a partir de um estudo divulgado ontem pelo ISP (Instituto de Segurança Pública) do Estado.
O levantamento mostra também que mais da metade (56%) dessa população não confia na Polícia Militar e que o maior medo, citado por 57% dos entrevistados, é ser vítima de uma bala perdida em seu próprio bairro. O segundo maior medo é estar no meio de um tiroteio (43,5%).
A pesquisa de vitimização foi realizada em 2007 e seu principal diferencial foi investigar diretamente com a população os crimes dos quais ela foi vítima. Os balanços tradicionais das secretarias de segurança pública pegam apenas crimes registrados nas delegacias, deixando de fora incidências em que a pessoa não registrou boletim de ocorrência.
O cálculo dos 26% da população vítima de algum crime foi feito pelo sociólogo Michel Misse, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), um dos consultores convidados pelo instituto para participar da pesquisa.

Taxa elevada
Em seu trabalho, Misse selecionou crimes de furto, roubo, estelionato, ameaça, agressão e ofensa sexual relatados pelos entrevistados nos 12 meses anteriores à pesquisa.
"Trata-se de uma taxa de vitimização muito elevada para um período de 12 meses. Para se ter uma idéia, em alguns países europeus, essa taxa é de 30% a 32% para um período de cinco anos", afirmou.
A pesquisa permite também verificar quantos dos crimes foram, segundo a população, registrados na delegacia.
O percentual é alto no caso de furtos (91%) ou roubos de veículos (78%), bens de maior valor e cujo registro na delegacia é exigido por companhias seguradoras. Na maioria dos outros crimes, no entanto, fica sempre abaixo ou próximo de 40% do total.
De acordo com o sociólogo, o que mais surpreende não é o alto percentual de subnotificação, comum em vários países onde esse tipo de pesquisa é feita. O que ele destaca é o fato de o número de crimes que as pessoas disseram ter registrado na delegacia ser muito maior, na comparação do mesmo período, que as estatísticas oficiais dos mesmos crimes.
Uma das hipóteses que ele levantou para explicar o fato é que a pessoa pode efetivamente ter ido à delegacia, mas os policiais podem não ter registrado a queixa.
Outra possibilidade para essa discrepância é que, num assalto dentro de um ônibus, é feito apenas um registro policial, mas várias pessoas podem ter sido vítimas.

Confiança
Para o tenente-coronel Mário Sérgio Duarte, diretor-presidente do Instituto de Segurança Pública, a pouca confiança da população na Polícia Militar não deve servir de desestímulo para a corporação.
"Temos que fazer todos os esforços para conquistar ou reconquistar a confiança da população, produzindo melhores serviços."
Vanessa Campagnac, uma das organizadoras da pesquisa, diz que o percentual maior de desconfiança em relação à PM deve-se também ao fato de esta corporação estar mais presente nas ruas, enquanto a Polícia Civil (cujo percentual dos que não confiam cai para 43%) realizar um trabalho menos ostensivo.
Sobre o medo das pessoas de serem atingidas por uma bala perdida, o sociólogo Gláucio Soares, outro dos especialistas convidados pelo ISP a interpretar os dados, afirma que o sentimento do medo nem sempre está relacionado ao risco real.
"Isso se vincula com a absoluta imponderabilidade da bala perdida. O mesmo acontece com o latrocínio, que responde por apenas 5% dos homicídios, mas as pessoas sentem muito mais medo. Não há relação entre medo e risco", disse Soares.


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