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Grupos alternam sequestro e tráfico
DA REPORTAGEM LOCAL
Dinheiro do tráfico de drogas
que financia sequestro, que é reinvestido em compra ilegal de armas e que depois retorna para o
tráfico, e assim sucessivamente.
Uma quadrilha investigada pela
DAS (Divisão Anti-Sequestro) de
São Paulo é um exemplo da multiplicidade das ações de um grupo
criminoso e da relação entre tráfico e sequestro.
Alexandre Maciel da Silva, o Cadela, 25, preso em setembro pela
DAS, comandava as ações da quadrilha. Odair Francisco de Morais, 28, o Gardenal, foragido, realizava os contatos com outros criminosos que participam das
ações e César Gomes, o Ceará,
também foragido, era o idealizador das operações.
A quadrilha começou a atuar no
tráfico nas regiões do Sacomã e
Jardim Bristol, na região sul de
São Paulo.
Diversificação
Há pelo menos um ano, o grupo
resolveu diversificar as ações e
apostou no sequestro.
"Eles comentaram que o sequestro estava dando mais dinheiro do que o próprio tráfico",
disse um dos homens sequestrados pela quadrilha.
Segundo o delegado José Eduardo Zappi, da DAS, a quadrilha
usou a infra-estrutura e a rede de
contatos do tráfico para realizar
os sequestros.
"Eles usam seus soldados do
tráfico como carcereiros e as biqueiras [pontos-de-venda da droga" como cativeiro", afirmou
Zappi, responsável pela prisão de
Alexandre da Silva.
A infra-estrutura e o know-how
do grupo de traficantes na área de
sequestros atraiu a atenção de criminosos de outras áreas da cidade
de São Paulo.
A polícia descobriu, por exemplo, convites de outras quadrilhas
para o grupo de Silva realizar sequestros.
O trato era 50% do lucro para
cada parte. A DAS deve indiciar o
grupo de Silva por pelo menos
três sequestros na Grande SP e
por formação de quadrilha.
Nesses três casos, as vítimas ficaram em pontos-de-venda da
droga e foram vigiadas por traficantes locais. A venda era proibida enquanto os sequestrados estavam no local.
Capitalização
"Não existe mais o criminoso
especialista puro. Fazem de tudo,
dependendo da época e da oportunidade", afirmou Guaracy Mingardi, pesquisador da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre tráfico de drogas e secretário
de Assuntos de Segurança de
Guarulhos (Grande SP).
Segundo Mingardi, pequenos
traficantes investem seu dinheiro
em sequestros para se capitalizarem rapidamente.
"O sequestro exige gente, controle sobre uma área e um capital
operacional, e isso o traficante
tem", disse o pesquisador.
Mas essa diversificação, segundo Mingardi, não é lucrativa para
médios e grandes traficantes.
"Ocorrem casos, sim, mas não é
uma tendência como ocorreu
com os traficantes do Rio na década de 90, que usaram o sequestro
para se capitalizarem depois do
Plano Collor", lembrou.
Segundo o diretor do Denarc
(Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos),
Ivaney Cayres de Souza, os traficantes, na maioria dos casos, não
gostam de se envolver em outros
crimes para não prejudicar o comércio da droga.
"Os casos [de ligação entre tráfico e sequestro" são raros. Mas
bandido é bandido. Vai usar o recurso que tem. E ele não é sequestrador porque gosta, mas porque
dá dinheiro. Crime organizado é
isso", afirmou Souza.
(GP)
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