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"Após 2 dias, não conseguia respirar"
DA REPORTAGEM LOCAL
O engenheiro civil Fernando
admite que participou de um
"teatro" organizado pelos sequestradores, mas afirma que foi por
uma boa causa: melhorar suas
condições em cativeiro. Leia a seguir a entrevista concedida sob a
condição de não ser identificado.
Folha - Como foi o seu contato
com a droga?
Fernando - Em um determinado
dia, eles pediram para fazer trouxinhas de maconha para suprir
outro ponto-de-venda.
Folha - E o que eles falaram?
Fernando - Eles disseram: "Você
está aí, não está fazendo nada, ajuda aqui".
Folha - Por quantos dias?
Fernando - Foram dois dias. Tinham um pouquinho mais de
confiança em mim, vamos dizer
assim (ri). Tudo bem. Estou lá, vamos cooperar.
Folha - Como você fazia?
Fernando - Pegava o tijolo e ia esfarelando. Fizemos 200 trouxinhas em um dia e 200 em outro.
Folha - Eles o ensinaram?
Fernando - Eles mostraram como é que se faz. Primeiro esfarelava o tijolo. Depois, pegava saco
plástico de lixo, cortava, enrolava
no saco e queimava com uma vela
para fechar a trouxinha.
Folha - O que passava pela sua cabeça naqueles momentos?
Fernando - O medo era que, de
repente, alguém entrasse atrás de
droga e eu fosse morto ali.
Folha - Como foi a gravação da fita enviada à sua família?
Fernando - Disseram que, se
cooperasse e fizesse a fita, melhorariam minha condição. No começo, você está naquele estado de
depressão. E aí [eu disse" "não,
não vou cooperar". Mas após dois
dias não conseguia mais respirar.
Aí eu falei: "Bom, como é o negócio da fita aí?" (ri).
Folha - Os sequestradores impuseram essa condição?
Fernando - Eles falaram: "Se você fizer a fita, nós melhoramos a
sua condição".
Folha - Não parece encenado?
Fernando - Foi muita montagem. Ele forçou com a arma e tudo, mas não houve essa intimidação com a arma. Tinha de fazer
um teatro. Eles até falaram: "Será
que ficou bom? Se não, a gente vai
ter de fazer de novo". Eles analisaram o vídeo para ver se eu tinha
passado a imagem de medo.
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