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SAÚDE
Vacina ajuda a evitar aborto recorrente
Tratamento com medicação desenvolvida a partir do sangue do marido pela Unicamp tem eficácia de 85%
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Gilia, 38, advogada. Luciene, 36,
bailarina. Ambas sofreram quatro
abortos seguidos e só conseguiram ter os seus bebês após um tratamento ainda pouco comum no
Brasil: uma vacina desenvolvida a
partir dos linfócitos -um tipo de
glóbulo branco- do marido.
Nos centros médicos onde vem
sendo utilizado, o tratamento
imunológico tem conseguido altas taxas de sucesso. No serviço da
Unicamp (Universidade Estadual
de Campinas), por exemplo, 85%
das 300 pacientes tratadas, que já
tinham histórico de dois abortos
ou mais, conseguiram ter seus bebês após o tratamento. Na maternidade Santa Joana/Pro Mater, o
índice de eficácia é de 87%.
Na Unicamp, único serviço do
país que dispõe do tratamento
gratuitamente, 40 casais aguardam o atendimento em fila de espera. Novas vagas só devem ser
abertas em março de 2003. Nas
clínicas particulares, o tratamento
custa em média R$ 2.000.
Segundo a médica imunologista
Silvia Daher, professora da Unifesp (Universidade Federal de São
Paulo) e que também trabalha na
Santa Joana/Pro Mater, a imunoterapia só é indicada quando outras causas de aborto (alterações
cromossômicas, genéticas e infecciosas) forem descartadas.
Para compreender como o tratamento funciona é preciso entender antes porque esse tipo de
aborto de repetição, que acontece
no início da gestação, ocorre.
Segundo o obstetra e ginecologista Ricardo Barini, 47, coordenador do programa de imunoterapia da Unicamp, para o feto não
passar despercebido pelo organismo da mulher é preciso que haja
uma resposta imunológica entre a
mãe e o embrião.
Na maioria das gestações, afirma Barini, essa adaptação imunológica ocorre normalmente. Mas,
em alguns casos, o organismo da
mulher tem dificuldade de perceber a gravidez. Ele a interpreta como se fosse uma doença que estivesse tentando agredi-lo. Começa, então, a produzir substâncias
que interrompem a gravidez.
A chave do problema estaria na
maneira como o organismo materno interpreta as informações
genéticas paternas presentes na
superfície das células do embrião.
Segundo Barini, existe uma fração molecular, chamada HLA-G,
que entra em contato com o sistema imuno-materno e informa
que o está ocorrendo é uma gravidez e não uma doença. Esse reconhecimento faz a mulher desenvolver substâncias que bloqueiam
a resposta contra a gravidez.
A vacina, feita com os linfócitos
do marido, atua quando esse reconhecimento não acontece naturalmente. Ela tem as informações
que o sistema imunológico da
mulher precisa reconhecer para a
gravidez prosseguir.
"Basicamente é necessário que a
parte do marido que está na placenta possa ser percebida pela
mulher e que ela se adapte à presença do feto", afirma Barini.
Na primeira fase do tratamento,
é realizado um exame para saber
se os abortos são mesmo de origem imunológica. Se forem, é feita uma vacina usando os linfócitos presentes no sangue do marido misturados a soro fisiológico.
A mulher recebe duas doses da
vacina. Em seguida, repete-se o
teste para saber se a imunização
ocorreu. Em caso negativo, é feita
uma nova vacina associando o
sangue de um doador não aparentado. "Mas o teste final é feito
entre o soro da mulher e as células
do marido", diz Barini.
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