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GILBERTO DIMENSTEIN
Quem tem medo de Regina Duarte?
A atriz Regina Duarte foi a
principal estrela das eleições
na semana passada porque disse,
no horário eleitoral gratuito, estar temerosa de que Lula esfarele
as conquistas do Plano Real e de
que não tire do papel nenhuma
promessa social. Virou alvo da
pancadaria de muitos artistas,
que a acusaram de terrorista e até
de venal.
Num discurso articulado pelo
PSDB para mostrar que, com Lula, a crise vai aumentar, ela expressou o temor do eleitor desconfiado das qualificações do candidato do PT e atormentado com as
perspectivas econômicas.
A julgar pela pesquisa do Datafolha publicada hoje, não existe
um só sinal de que esse discurso
tenha abalado os eleitores a ponto de suscitar, mesmo timidamente, uma virada. A uma semana do pleito, a avalanche Lula
mostra que os brasileiros estão
várias vezes mais dispostos a ter
esperança do que a ter medo. As
advertências sobre as possíveis dificuldades esvaem-se numa festa
do tipo "paz e amor", em meio às
promessas de milhões de empregos e de crescimento econômico.
Nas conversas reservadas, articuladores do PT já se sentem com
um pé no Planalto e outro fora do
palanque, trabalham mais com
as previsíveis agruras do futuro
próximo do que com as festas da
esperada vitória e levam tão a sério o discurso do medo, de Regina
Duarte, quanto o da esperança,
de Lula. De verdade, estão mais
para medo que para esperança.
Por isso querem anunciar, ainda neste mês, logo depois da esperada vitória, os nomes de quem
vai comandar o Banco Central e o
Ministério da Fazenda, ambos
obrigatoriamente aceitáveis pelo
chamado "mercado".
Quem tem informação tem medo -e sabe que, no primeiro ano
de governo, se a situação não piorar e só continuar como está, já
terá sido uma conquista e tanto.
A situação econômica está tão
delicada e a conjuntura internacional, tão desfavorável (tem-se
como quase inevitável uma guerra contra o Iraque, enquanto as
economias de países ricos capengam) que Serra também não chega a ser um calmante. Eleito, terá
de governar com a maioria dos
brasileiros frustrados, decepcionados com a falta da sonhada
mudança em que acreditaram,
instigados pelas ilusões eleitorais.
As promessas de crescimento
econômico do candidato do governo têm, pelo menos nos dois
primeiros anos de mandato, as
mesmas chances de sair do papel
do que as de Lula.
Serra terá de montar uma ofensiva de comunicação -o que, como se vê na campanha, não é o
seu forte.
Por carregar a bandeira da mudança, Lula vai ter de administrar, ainda com mais dificuldade
do que Serra, a inevitável frustração popular. Os articuladores do
PT ainda não sabem -e apenas
estão começando a pensar no assunto- como deverão reagir para manter a legitimidade presidencial e, assim, assegurar apoio
no Congresso, quando, passados
12 meses de governo, pouco puder
ser apresentado.
Nesse momento, cercado de
pressões, Lula repetirá o discurso
da ortodoxia econômica (aquele
que abateu a imagem do atual
governo) ou vai buscar algum
atalho?
É fácil o PT prometer, como
prometeu mais uma vez na semana passada, superávit primário
(ou seja, dinheiro para pagar as
dívidas), num sinal para os investidores de que manterá os acordos com o FMI. Difícil é ver tantos
recursos drenados para pagar dívidas quando se está cercado de
cobranças (não dos credores, mas
dos eleitores) e aparecem números sombrios nas pesquisas que
medem prestígio presidencial.
Não será agradável -por ser
muito difícil- justificar o aperto
fiscal usando como argumento a
importância de não brigar com o
FMI e com os banqueiros, tão
acusados de perversos especuladores em palanques passados.
O tamanho do desafio do próximo presidente pode ser avaliado
com base em uma informação do
balanço da gestão FHC, produzido pela Folha e publicado na
quinta-feira passada. O Plano
Real tirou 10 milhões de brasileiros da linha da pobreza, graças,
em larga medida, à estabilidade
financeira, à ampliação da previdência rural e aos programas de
renda mínima.
Mesmo assim, a imagem de
FHC está associada ao retrocesso
social -o que municia a campanha de Lula. E notem que FHC se
salva por causa da estabilidade.
P.S. - O episódio protagonizado
por Regina Duarte provocou ridículos comentários por todos os lados. A atriz identifica-se há muito
tempo com o PSDB. É estupidamente óbvio que ela tem o direito
de fazer campanha e dizer o que
bem entender: não merece receber acusações e ataques baixos
como recebeu de artistas. Mas
também é certo que aqueles que
não gostaram do que ela disse critiquem a sua atitude -e isso nada tem a ver, como quiseram afirmar dirigentes do PSDB, com patrulhamento.
E-mail - gdimen@uol.com.br
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