São Paulo, sábado, 21 de junho de 2008

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Escola de Guarulhos teve 4 diretoras em apenas 8 meses

Duas delas tiveram duas passagens pelo colégio nesse período; transferências agora só podem ser feitas a partir de um ano

Presidente da Apeoesp diz que é contra a rotatividade nas escolas, mas afirma que há muitos problemas que motivam a mudança

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

De outubro até agora, a escola Nova Cumbica 2, em Guarulhos, teve quatro diretoras, sendo que duas delas ocuparam o cargo duas vezes.
Na ordem, Silene, Marizilda, Mariane, Suzete, Mariane, Marizilda. Isso só pôde acontecer graças ao artigo 22 da lei complementar 444/85, do magistério público, que amparava substituições de professores, diretores e supervisores a partir de um período de 30 dias. Agora, os afastamentos só podem acontecer a partir de 200 dias letivos (ou um ano).
"Essa movimentação de professores e diretores inviabiliza qualquer plano de metas em um determinado prazo. Dificulta a adaptação do professor, seu conhecimento da escola e da comunidade", diz a diretora regional de ensino Maria Aparecida Barreto.
Mariane, que aparece duas vezes no segundo parágrafo, é um exemplo bastante ilustrativo do que ela mesma chama de "efeito dominó".
Aprovada em concurso , Mariane, que é de Matão (305 km de SP), pleiteou o cargo de diretora na escola de Guarulhos "porque só dava para escolher lugar na Grande São Paulo". Ela substituiu Marizilda, que entrara no lugar de Silene.
Mas ficou pouco tempo no cargo. Logo conseguiu uma vaga em uma escola de Matão, cuja diretora foi para São José do Rio Preto. Ocorre que a diretora não se adaptou em São José, e voltou. Mariane então teve de retornar para Guarulhos.
"O certo seria o diretor ficar um tempo -digamos, quatro anos- no mesmo lugar, para a escola pegar a cara dele", afirma a própria Mariane.
Na época, ela se valeu da resolução 73 do artigo 22 ("pedi anuência na escola em que trabalhava e me inscrevi para concorrer a uma vaga na minha cidade"). Em sua segunda gestão como diretora na escola Nova Cumbica 2, Mariane ficou apenas cinco dias -até conseguir recolocação em Matão. Ela argumenta que "o professor que mora longe vai ter de vender a casa, reestruturar toda a vida da família, se mudar."
O presidente da Apeoesp, Carlos Ramiro de Castro, diz que é radicalmente contra a rotatividade de profissionais nas escolas -mas argumenta que há muitos problemas que motivam a remoção.
"O número de ingressantes por ano no magistério é enorme, e a maioria das vagas está em São Paulo. Pega um candidato jovem que mora no interior: ele passa no concurso, é obrigado a escolher uma escola na capital e, quando chega aqui, encontra violência, falta de infra-estrutura e tem de viver com um salário baixo. Esse professor não pede nem transferência, pede demissão", diz.
A professora de geografia Maristela (nome fictício), 38, de Araçatuba, conta que sofreu ameaça de alunos de uma escola em São Bernardo, quando a mãe de um deles relatou em uma reunião de pais e mestres que ele usava drogas. O garoto achou que a professora o havia entregado e a aguardou na porta da escola com amigos.
"Os rapazes estavam com paus e pedras, e eu fiquei tão nervosa que não consegui abrir o portão com a chave mestra", conta ela, que precisou pedir transferência. "Não tinha mais condições de ficar naquela escola. Trabalhava com medo".
O presidente do Apeoesp diz que a luta dos professores é mais antiga que o decreto 53037/08, que modifica o sistema de transferências e substituições nas escolas. "Nossa paralisação é por melhores condições de trabalho. Também queremos que o professor permaneça na escola o máximo de tempo possível."


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