|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Operários vão embora 1 h após polícia liberar obra vetada por tráfico
Prefeito e secretário da Segurança foram à favela acompanhar construção, mas pouco depois funcionários deixaram local
De manhã, PMs prenderam homem acusado de pressionar a empreiteira para que não iniciasse a construção de pontilhão
EVANDRO SPINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Protegidos por cerca de 50
policiais civis e militares, além
de seguranças pessoais, o prefeito Gilberto Kassab (DEM) e
o secretário da Segurança Pública da gestão José Serra
(PSDB), Ronaldo Marzagão, foram ontem a Itaquera (zona
leste de SP) acompanhar o início da construção de um pontilhão que havia sido vetado por
traficantes. Uma hora depois
que polícia e autoridades deixaram o local, porém, os operários também foram embora.
O prefeito e o secretário chegaram à favela por volta das
13h40 e partiram cerca de 20
minutos depois. Por volta das
15h, os operários também deixaram a obra.
Segundo a empreiteira Crisciuma, ontem seria feita só a
limpeza da área. A obra mesmo
só começa na segunda-feira.
A Subprefeitura de Itaquera,
questionada, informou apenas
que a ordem da prefeitura é que
a empreiteira atue com duas
frentes de trabalho simultâneas -uma na preparação das
vigas e outra na preparação do
terreno para fazer a concretagem- e que não sabia que a empresa tinha ido embora.
Há dez dias, homens armados ameaçaram funcionários
da empreiteira e os proibiram
de iniciar a obra sobre o córrego Pintadinho, que facilitará o
acesso de carros de polícia à região, onde, segundo moradores,
há comércio de drogas.
Kassab disse ter tomado conhecimento do caso anteontem à noite. Imediatamente,
segundo ele, conversou com
Marzagão e, ontem pela manhã, determinou à empresa que
retomasse a obra.
Prisão
Também pela manhã, policiais militares estiveram na região e prenderam o suposto
responsável pela pressão sobre
os funcionários da empreiteira.
Carlucio Alves Coutinho, 21, foi
detido por porte ilegal de arma
-ele tinha um revólver Taurus
.380 com 17 projéteis.
Segundo o capitão Robson
Silva da Cruz, comandante da
PM na região, Coutinho esteve
preso por três anos e oito meses
por tráfico de drogas. Solto em
dezembro, atualmente mora na
região da favela do Pintadinho.
Kassab e Marzagão permaneceram menos de 20 minutos
no local. Vistoriaram o pontilhão de madeira por onde é possível atravessar apenas a pé, de
bicicleta ou de moto, deram entrevistas e foram embora.
Comando
"A cidade de São Paulo tem
ordem, tem comando, existe a
prefeitura, existe o governo do
Estado, e não iremos tolerar em
nenhum momento, em nenhum local, manifestações indevidas e interferências nas
ações da prefeitura", disse Kassab ao chegar ao local da obra.
Marzagão afirmou que o que
ocorreu na favela do Pintadinho foi um fato isolado. "Não
há uma área em São Paulo em
que a polícia não entre. Esse foi
um episódio isolado e que não
deve se repetir. Não há área em
São Paulo impenetrável."
Pouco antes, o subprefeito de
Itaquera, Laert de Lima Teixeira, tinha culpado a empreiteira
pela confusão. "Foi falha da
empresa. Se ela tivesse nos comunicado, imediatamente teríamos agido. Agora, a empresa
está aí e vai começar a obra."
A Crisciuma foi contratada
pela Siurb (Secretaria de Infra-Estrutura Urbana e Obras) e,
quando houve o problema, avisou a pasta. Teixeira disse só ter
ficado sabendo do caso na terça-feira à noite.
Preocupação
Wálter Maierovitch, ex-juiz e
ex-secretário nacional Antidrogas, disse que a ocorrência
em Itaquera é preocupante. Segundo ele, a polícia não tem um
trabalho permanente de inteligência. "A população local sabe,
teme e obedece o crime organizado. Essas organizações estão
presentes, difundem o medo."
Marzagão afirmou que será
feito um esquema de segurança
para garantir a obra. "Aqui em
São Paulo é inadmissível isso. E
que fique como uma lição para
quem pretender enfrentar o
poder público. Nós responderemos sempre assim: presença
maciça da polícia e cadeia."
Para Maierovitch, presença
maciça da polícia não resolve o
problema. "Quando a polícia
age ostensivamente, ou há um
deslocamento dessas organizações ou, o que é mais comum,
elas submergem, a polícia sai e
eles voltam a atuar."
Kassab disse que o pontilhão
deve estar pronto até agosto. O
processo interno na prefeitura
para a obra tramita desde 2002.
Só em outubro do ano passado
foi aberta a licitação.
Texto Anterior: Alberto de Campos Borges: Um homem pragmático da topografia
Próximo Texto: Frase Índice
|