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Sem ir a júri, acusado de crime na USP é solto
Fábio Nanni esfaqueou e matou amigo em 2005; TJ aceitou argumento de que ele ficou tempo demais preso sem julgamento
Como nenhum procurador de Justiça foi contrário à libertação, não cabe mais recurso e aluno responderá ao processo em liberdade
KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL
TALITA BEDINELLI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Livre há 53 dias, Fábio Le Senechal Nanni, 24, acusado de
invadir a rádio USP e esfaquear
e matar o estagiário Rafael Azevedo Fortes Alves, 21, em 2005,
passa a maior parte do tempo
na casa dos pais, tomando remédios controlados e escrevendo as memórias de seus dois
anos e meio de cárcere.
Quem afirma isso é a advogada Maria Adelaide de Campos
França, que no último dia 30 de
abril obteve a libertação provisória de Nanni junto ao Tribunal de Justiça de São Paulo.
"Eu mesma orientei que ele
escrevesse as memórias do cárcere dele. Orientei que ele escrevesse um livro", disse ela.
O desembargador Fábio
Gouvêa havia aceitado as alegações da defesa, de que Nanni
passou tempo demais preso
sem um julgamento -geralmente a Justiça segue um prazo de até três meses-, e autorizou a saída do detento em caráter liminar. Na última quarta-feira, outros desembargadores
analisaram o mérito do habeas
corpus e mantiveram a decisão.
Como nenhum procurador
de Justiça foi contrário a libertação, não cabe mais recurso e
Nanni responderá ao processo
em liberdade. Após sua soltura,
o juiz do caso, Cassiano Ricardo
Zorzi Rocha, adiou o julgamento do réu, que estava marcado
para o próximo dia 28, para junho de 2009. Ele alegou que é
prioridade julgar réus presos.
Mildred Campi, promotora
responsável por denunciar
Nanni por homicídio doloso
duplamente qualificado (motivo torpe e sem dar chance de
defesa à vítima) à Justiça, afirmou que se houve atraso para
julgar o réu, ele foi provocado
pela antiga defesa, que impetrou diversos habeas corpus rejeitados e também pediu a impugnação de um laudo do
Imesc (Instituto de Medicina
Social e de Criminologia), órgão vinculado à Secretaria da
Justiça e da Defesa da Cidadania do Estado de São Paulo.
A pedido dos advogados da
época, que alegavam insanidade -afirmavam que Nanni matou o colega sem estar consciente de seus atos-, o Imesc
elaborou um laudo que atestou
que ele era são. "Mas ao pedir a
impugnação, isso levou um ano
até que o Imesc dissesse novamente em outro laudo que ele
não é louco", disse Campi.
Nanni, aluno do 2º ano de
jornalismo da ECA (Escola de
Comunicações e Artes) da Universidade de São Paulo e colega
de classe da vítima, foi preso
em flagrante logo após o crime,
no dia 14 de outubro de 2005.
Por decisão da Justiça, ficou
detido preventivamente no
CDP (Centro de Detenção Provisória) do Belém, zona leste.
Procurada, a família informou que nem ela nem ele falariam sobre o caso. Colegas de
Nanni disseram à Folha que
ele teria se convertido a uma
religião evangélica e não quer
mais voltar a estudar na USP.
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