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Além de não beneficiar quem não tem acesso a remédios, farmácias populares podem agravar desabastecimento
Programa não atingirá metas, diz indústria
DA REPORTAGEM LOCAL
O programa Farmácia Popular,
que o governo quer anunciar em
janeiro, satisfaz só a uma promessa de campanha. Não beneficiará
os cerca de 50 milhões de brasileiros que não têm acesso aos medicamentos, mesmo que os preços
sejam simbólicos.
O programa ainda corre o risco
de, ao "desviar" a produção dos
laboratórios públicos para as farmácias populares, acabar provocando um desabastecimento ainda maior na rede pública, que hoje já sofre com a falta de produção.
Essas são algumas das ressalvas
que fizeram representantes da indústria ouvidos sobre o Farmácia
Popular. Nos últimos meses, várias reuniões foram feitas entre
representantes do governo, da indústria e do comércio farmacêuticos. Oficialmente, no entanto, nada ainda estaria definido.
Não é sensato em um país com
uma rede de 56 mil farmácias privadas, o governo anunciar a abertura de farmácias públicas, disse
um representante. "Também não
é sensato investir em laboratórios
públicos para vender em farmácias populares quando a indústria
farmacêutica no país tem um excelente nível e trabalha com uma
ociosidade de 43%", afirmou Ciro
Mortella, presidente-executivo da
Febrafarma, federação que reúne
a indústria farmacêutica.
Para Vera Valente, diretora-executiva da Pro-Genéricos, Associação Brasileira de Medicamentos Genéricos, o governo poderia contribuir de outra forma
para reduzir o preço dos medicamentos e ampliar o acesso à rede
SUS. "Incentivando o mercado e a
competição entre os genéricos, o
governo aqueceria o mercado e
conseguiria maiores reduções nos
preços", diz. Na média, os genéricos conseguiram uma redução de
40% no preço, mas em vários remédios de uso contínuo, como
anti-hipertensivos, a queda chega
a 70%, ela lembra.
Para alguns representantes da
indústria, o projeto de farmácias
populares distorce as funções do
Estado, que isenta e incentiva seus
próprios laboratórios a vender
para quem pode pagar.
Oficialmente, a Febrafarma ainda espera que os representantes
governamentais venham dizer
exatamente o que pretendem no
projeto Farmácia Popular.
"Não recebemos nenhum documento ou proposta oficial", diz
Mortella. O que se sabe, segundo
ele, é que o governo poderá sugerir a participação da indústria privada numa proposta mais ampla,
trocando isenções de impostos
por uma redução no preço final
dos medicamentos.
Feitas as contas, no entanto, a
indústria diz que essa troca permite uma redução de, no máximo, 18% nos preços. No entanto,
o governo estaria esperando o dobro. "Não teremos onde cortar",
diz o presidente da Febrafarma.
Jorge Froes de Aguilar, secretário-executivo da Abafarma, associação que reúne os atacadistas do
setor farmacêutico, também afirma que a proposta do governo
não contempla as pessoas que hoje estão excluídas do mercado de
medicamentos.
"Mas estamos dispostos a participar do processo se viermos a ser
convocados", diz ele.
(AURELIANO BIANCARELLI E FABIANE LEITE)
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