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Desfile do Rio vai reeditar 4 sucessos do passado
Escolas trazem antigos sambas-enredos
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Reeditar sambas antigos de sucesso ou optar por enredos novos
com patrocínios milionários. Essa
foi a questão que marcou o Carnaval do Rio deste ano.
A idéia inicial da Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba) era que todas as 14 agremiações do Grupo Especial trouxessem sambas consagrados. O objetivo era comemorar os 20 anos do
Sambódromo do Rio de Janeiro.
O problema é que grandes escolas já haviam negociado patrocínios. Com temas reeditados, seria
mais difícil obter os apoios. Com
isso, houve uma divisão. Apenas
quatro agremiações vão reviver
sambas antigos na Sapucaí: Viradouro, Portela, Tradição e Império Serrano.
Quem defende a reedição diz
que trazer um samba antigo é garantia de que a música vai "pegar"
na avenida, embalando a escola e
ajudando na harmonia. As escolas que trazem novos enredos dizem que os sambas dos anos 60 e
70 são mais lentos e difíceis de ser
adaptados à batida mais rápida
das baterias atuais.
Haveria ainda o risco de "rebaixar" um enredo campeão. "Já
pensou a Mangueira refazendo
um enredo campeão e ficar em
décimo lugar? Seria péssimo",
disse o presidente da escola, Álvaro Caetano, o Alvinho.
Com o enredo "Mangueira Redescobre a Estrada Real...E deste
Eldorado Faz seu Carnaval", a escola recebeu R$ 1 milhão de empresas de Minas Gerais -Fiat,
Usiminas e Açominas, entre outras- para contar a história da
antiga estrada que trazia o ouro
de Minas a Parati (litoral sul do
Rio).
A Mangueira teve ainda o apoio
institucional do governo de Minas, que quer promover o Caminho Real como destino turístico.
A Mangueira, segundo Alvinho,
recebeu ainda R$ 600 mil da Brahma. A agremiação gastou, ao todo, R$ 4 milhões neste ano.
Para Mauro Quintaes, carnavalesco da Viradouro, "entrar na
avenida com todo o povo sabendo a letra é uma grande vantagem". A escola recria um enredo
da Unidos de São Carlos (hoje,
Estácio de Sá, que está no Grupo
de Acesso), de 1975, sobre a festa
católica do Círio de Nazaré, em
Belém do Pará. Mesmo sem patrocínio, a escola teve o mesmo
orçamento da Mangueira: R$ 4
milhões. "É um tema encantador", diz Quintaes, que já fez quatro enredos patrocinados quando
estava no Salgueiro.
Neide Coimbra, presidente da
Império Serrano, reconhece que
teve dificuldades para conseguir
dinheiro, mas trazer de volta ao
Carnaval o samba "Aquarela Brasileira" fez lotar a quadra da escola e vender fantasias como nunca.
Quarto lugar em 1964 e de autoria de Silas de Oliveira, o samba é
um dos mais famosos do Rio.
A Portela levará um samba
campeão de 1970: "Lendas e Mistérios da Amazônia". A Tradição,
uma dissidência da escola, trará
também um samba da Portela:
"Contos de Areia". Com ele, a
Portela foi campeã em 1984.
Outra escola com patrocínio
gordo é o Salgueiro. Contando a
história do álcool, a escola recebeu R$ 1,2 milhão do grupo J. Pessoa, dono de oito usinas. O Salgueiro desembolsou R$ 4 milhões
no desfile deste ano.
Márcia Lávia, carnavalesca do
Salgueiro, diz que, a princípio, o
tema pareceu estranho. Mas que,
depois do trabalho de pesquisa, o
enredo permitiu fazer um Carnaval futurista, com muitos efeitos
especiais.
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