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Jovem escapa da morte após ação de mediador
DA SUCURSAL DO RIO
A rapidez de pensamento é
semelhante a uma rajada de
metralhadora, e ele, hoje, brilha
nos palcos como o pó que antes
vendia. Um ex-traficante faz
sucesso em palestras em empresas como Natura e Itaú Cultural e espaços como a Casa do
Saber e a UFRJ (Universidade
Federal do Rio de Janeiro).
Ao narrar sua experiência como mediador de conflitos e ex-líder do tráfico, Washington
Luiz Oliveira Rimas, o Feijão,
33, é um dos destaques nas conferências promovidas pelo
AfroReggae.
"Sou baixinho, gordinho e
negro. Para ter mulher bonita
na favela, só se eu fosse o chefe
do tráfico", gosta de contar Feijão, hoje pai de dois filhos, casado com uma mulher que começou a namorar quando ela tinha
14 anos e ele, dez anos mais velho, era uma das lideranças de
uma facção e dono dos pontos
de venda de droga na favela de
Acari, zona norte do Rio.
Em junho de 2003, Feijão foi
preso, acusado de comprar um
FAL (Fuzil Automático Leve),
roubado de um quartel do
Exército dois anos antes. O soldado que furtou a arma apontou Feijão como o comprador.
Feijão se escondia em Salvador havia oito anos -com idas e
vindas ao Rio- e diz que o soldado não poderia ter lhe vendido o fuzil. Mas, provavelmente,
vendeu a alguém que trabalhava para ele.
Em seu julgamento, Feijão
conta que a defesa pediu que o
soldado descrevesse o traficante a quem vendeu a arma: "Um
negão grande e forte", respondeu. O baixinho e gordinho Feijão foi absolvido e decidiu largar o tráfico.
Quando conheceu José Junior, do AfroReggae, mais uma
vez os traficantes de sua antiga
facção da Parada de Lucas haviam invadido o local onde o
AfroReggae trabalha. "O cara
que manda no crime lá começou carregando a quentinha para mim. Ele me respeita muito", narra Feijão.
Como mediador, ele foi para
a comunidade para tentar evitar que os traficantes de sua antiga facção "batessem neurose"
com moradores que tivessem
alguma ligação familiar com
traficantes do Comando Vermelho. "Fui dando tranqüilidade ao pessoal, e deu certo."
Cooptação
Dois integrantes das oficinas
de percussão foram vistos de
rádio na mão, aderindo ao tráfico, após alguns anos no grupo
cultural.
"Quando os caras tomaram a
comunidade, o tráfico estava
passando por um momento crítico financeiramente. Chegam
os invasores, cheios de dinheiro, cheios de cordão de ouro,
carro poderoso, moto bonita.
Isso balança o moleque da favela", afirma Feijão.
Junior soube da cooptação e,
às 7h, ligou para Feijão, para
que fosse falar com um dos garotos que vivia seu primeiro dia
como radinho do tráfico -o antigo olheiro, mas que, hoje, tem
radiotransmissores.
"Mesmo que tu queira ir para
a boca-de-fumo, tu não fez certo, não. É bagulho errado. Tu
não está sendo sujeito homem
não. Tem de ir lá ao AfroReggae
falar que tu quer ser bandido",
relembra Feijão, na sua particular conjugação verbal.
O gerente do tráfico logo rebateu: "Ninguém está obrigando a ninguém entrar para a boca, não", conta Feijão.
"Se o cara sai da boca, não
tem de falar com você? Se sai do
AfroReggae, tem de falar com o
Junior", argumentou Feijão.
"Comecei a contar minha
história, mostrei as cicatrizes
dos tiros que tomei e disse que
ele estava maluco. O Junior disse que ele morreria na mão do
Comando Vermelho", recorda.
Uma semana depois do ocorrido, sete traficantes foram
mortos em uma operação policial. O conflito ocorreu no ponto em que o jovem fazia vigília.
"Ele ligou chorando para agradecer quando soube da notícia.
Até hoje sou babá dele. Semana
passada, fui ao hospital buscar
seu primeiro filho, que acabou
de nascer."
(PF)
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