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EUSTÁQUIO ALVES DA SILVA (1903-2008)
A vida severina do mais velho de Caicó
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A peregrinação de curiosos
irrompeu devagar pela porta
do número 303 da rua Coronel Bembem, segunda, só para ver de perto o homem
mais velho de Caicó (RN).
Eustáquio da Silva jazia na
cama -ele e seus "104 anos,
oito meses e 26 dias de vida".
"A causa, meu filho, foi a
velhice", diz a nora. "E já era
hora." Não comia. Pedia para
morrer -não queria incomodar Toinha, neta que cuidava dele "como de uma
criança" e terá, então, a casa
como herança pelo tanto que
passou. "Vem botar fumo no
cachimbo que está hora", gritava, diz a nora. "Era Deus no
céu e Toinha na Terra."
Mas Silva fora homem forte, de lida na roça, desde que
nasceu no sertão de Brejo da
Cruz (PB) até ir para Caicó,
havia 30 anos, com a mulher
-fizeram 75 anos de casório
com bodas de brilhantes. E
ela morreu um ano depois.
"Nunca teve chance boa na
vida." A melhor foi há meio
século, quando era comboieiro -não de caminhão,
que então não tinha, mas de
lombo de burro. Ia e voltava
do Crato (CE), com farinha e
rapadura no lombo de oito
jumentos, para vender em
Serra Negra do Norte (RN).
Lá, foi vereador quando
"conseguiu" o cemitério para
a Barra de São Pedro -diz a
nora, inaugurado com a cova
de um dos três filhos mortos
dos quatro que teve.
Antes, um primor de novo;
agora, o lugar tinha "mato
que dava nos peitos" e muita
formiga vermelha no chão.
"Dava até dó." Lá, Silva foi
enterrado, segunda, sob
olhares da família de 36 netos, 86 bisnetos e 26 trinetos.
obituario@folhasp.com.br
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