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Fundada por imigrantes
japoneses, Bastos vive
como "capital do ovo"
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
ENVIADO ESPECIAL A BASTOS
No princípio, eram só japoneses. Fundada 20 anos após
a chegada da primeira caravana de imigrantes ao porto de
Santos, que em 18 de junho
completou cem anos, Bastos
àquela época desconhecia a
língua portuguesa. E até hoje
(boa) parte da população continua assim, monolíngüe.
A 536 km de São Paulo e a
uma hora de carro de Marília,
Bastos tem 20 mil habitantes.
Desses, uns 5.000 voltaram
ao Japão como decasséguis.
Mandam, em média,
US$ 1.000 mensais à família.
Mesmo com o êxodo, ainda
hoje a cidade possui a maior
porcentagem de pessoas de
origem asiática do Estado,
com 11,4% da população.
Bastos se orgulha ao dizer
que é a "capital do ovo", principal fonte de renda do lugar.
São 18 milhões de galinhas
poedeiras, que colocam 12
milhões de ovos diariamente.
A cidade tem tanto frango
que até no centro se sente um
cheiro de aves da zona rural.
A colônia foi fundada por
imigrantes japoneses recém-chegados ao Brasil em 1928. O
aniversário coincide com o
centenário, em 18 de junho,
mas Bastos (cujo nome é referência ao antigo fazendeiro
dono das terras), faz 80 anos.
"No começo não havia nem
nisseis. Todos eram japoneses mesmo, nascidos no Japão", diz o ruralista Yasuhiko
Yamanaka, que tem dupla cidadania, mas nunca foi à Ásia.
Tudo em Bastos remete ao
ovo. A praça? É do ovo. As calçadas? Têm desenhos de
ovos. O principal evento do
ano é a festa do ovo. O que
mais se come no lugar? Ovos.
Mas nem sempre foi assim.
A primeira monocultura foi a
do café. Aí veio um decreto do
governo em 1931, que impôs
restrições aos cafeicultores, e
surgiu o algodão, cuja produção atingiu um terço do que
era consumido no Estado.
Dez anos depois, veio o bicho-da-seda. Curiosamente,
Bastos tinha a maior fábrica
brasileira de fios de seda e foi
o maior fornecedor para os
EUA, que os usavam na produção de pára-quedas contra
os japoneses na 2ª Guerra.
Com o fim do conflito, a atividade entrou em declínio e a
produção avícola, à época
amadora, consolidou-se.
Em Bastos, o que não for japonês remete à simbologia
oriental. As lojas, quando não
têm nomes como padaria Takahashi, calçados Nagayoshi
e papelaria Kawasaki, chamam-se sementeira Sol Nascente ou têm nomes em português em ideogramas.
Na política, a cidade já foi
mais japonesa do que é agora.
De 13 prefeitos que já teve, sete eram descendentes. Hoje, a
Câmara não tem um vereador
nikkei sequer, entre os nove.
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