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Falha em tratamento de esgoto piora Tietê
Apesar dos gastos de R$ 6 bilhões em saneamento, estações liberam nitrogênio e fósforo, prejudiciais à vida aquática
Cetesb aponta deficiência no sistema em expansão pela Sabesp; elementos químicos agravam a situação do rio no interior
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
CONRADO CORSALETTE
DA REPORTAGEM LOCAL
A Sabesp despeja no Tietê esgoto tratado na Grande São
Paulo por um sistema deficiente -incapaz de tirar elementos
químicos que pioram a qualidade do rio no interior paulista.
A conclusão está expressa em
11 linhas do relatório de qualidade das águas divulgado há
duas semanas pela Cetesb, a
agência ambiental paulista, que
monitora os rios de São Paulo.
Segundo a Cetesb, o sistema
de tratamento implantado, e
em expansão, não consegue remover nitrogênio e fósforo,
substâncias que fazem proliferar algas e outros organismos
que roubam oxigênio da água,
afetando a vida aquática.
A Cetesb apontou o problema de deficiência no tratamento do esgoto a partir de testes
realizados entre a ponte dos
Remédios, a barragem Edgard
de Souza e a barragem de Pirapora. Lá, foi constatado que
existe uma tendência de aumento das concentrações de
nitrogênio e de fósforo.
Além disso, a Cetesb suspeita
que a ETE (estação de tratamento) de Barueri, que responde por 70% do esgoto tratado
na região metropolitana (referente a 4,5 milhões de pessoas),
funciona de forma inadequada.
Isso porque melhorou a água
coletada para testes antes do
ponto em que o esgoto tratado
é despejado, o que não ocorreu
nos trechos após o local em que
esse esgoto chega ao Tietê.
Um indicador de poluição,
que mede a necessidade de oxigênio na água, "confirma que
não existe uma redução da carga orgânica destinada ao médio
Tietê", segundo a Cetesb.
A pior condição para a vida
de peixes no Tietê está em Pirapora do Bom Jesus, cidade a 53
km de São Paulo conhecida pela espuma que costuma cobrir o
Tietê e até inundar as ruas.
Para a Cetesb, é necessário
discutir a implantação do chamado sistema terciário de tratamento, que consegue eliminar fósforo e nitrogênio.
Hoje, a Sabesp faz um tipo de
tratamento mais grosseiro e está investindo R$ 6 bilhões em
saneamento em todo o Estado,
sem modernizar a tecnologia.
"As ações em saneamento
continuam pertinentes, porém,
podem ser melhoradas para
avançarmos na qualidade das
águas e na saúde pública", diz o
gerente do departamento de
águas superficiais e efluentes
líquidos da Cetesb, Eduardo
Mazzolenis de Oliveira.
A opinião de que é necessário
mudar o sistema é referendada
por Plinio Barbosa de Camargo, do Centro de Energia Nuclear na Agricultura da USP
(Universidade de São Paulo),
em Piracicaba, especialista em
tratamento de efluentes.
Uma pesquisa iniciada há nove anos, após o ponto de esgoto
tratado no rio Piracicamirim,
em Piracicaba, revelou que a
água piora nesse local, efeito
semelhante ao do Tietê.
"Hoje, são gastos milhões em
sistemas de tratamento que
não dão conta, em estações que
não vão funcionar", diz.
Distrito Federal
Em Brasília, cerca de 50% do
esgoto coletado é tratado pelo
sistema terciário, cuja implantação e operação são bem mais
caras, mas mais eficientes.
Segundo Carlos Eduardo Pereira, superintendente de operação do sistema de esgotos da
Caesb (a Sabesp local), o processo é necessário porque a região tem rios pouco volumosos
e muitos lagos e lagoas. Por
causa disso, a poluição despejada em um lago pode permanecer por até dois anos.
"Com nossa situação aqui,
precisamos tratar o esgoto com
a máxima eficiência", disse.
Segundo ele, o custo de implantação do sistema terciário
foi de R$ 60 por habitante. O
sistema secundário custa
R$ 35, e o primário R$ 20.
Já a operação do sistema terciário tem um custo aproximado de R$ 0,80 por m3. Em um
sistema primário esse valor
não passa de R$ 0,10.
Colaborou LUIS KAWAGUTI , da Reportagem
Local
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