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LA DOLCE VITA
Entre as novidades estão a aplicação de botox e de restlyne
Cão de luxo tem grife e faz cirurgia plástica
FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL
Brutus e Tutsi andavam cabisbaixos. Nem comer queriam
mais. Depois de muita observação, a empresária Anita Alt acreditou ter descoberto o que incomodava seus "filhos": uma orelha
torta e cílios muito longos e curvilíneos. A vaidade os levou à cirurgia plástica. Hoje, com o rabinho
abanando e a pálpebra preenchida por silicone, são o orgulho da
"mamãe" Anita.
Cães premiados da raça schnauzer, Brutus e Tutsi ganharam tratamento de primeiro mundo. Para cirurgias estéticas pouco invasivas, nada de bisturi. Receberam
injeções de metacrilato e restlyne,
a última moda em plásticas humanas. Coisa fina. E cara -cerca
de R$ 400. "Ficou divino. Parecia
um milagre", derrete-se Anita.
Com os dois schnauzers, o veterinário Edgard Brito já contabiliza
30 cirurgias plásticas em cachorros somente neste ano, a parte
mais visível de um mercado que
não pára de crescer: o de produtos
e serviços de alto luxo para cães.
Todo mês surgem novidades
para os totós: plásticas com botox,
boulangeries que fazem pães e panetones, fotógrafos especializados em "books" caninos, escolas
de natação, psicólogos, hotéis de
luxo com banho de ofurô, clínicas
de terapias alternativas e, claro,
lançamentos das grifes que fazem
a cabeça de seus donos.
Tomas Kovarick, 34, que trabalha no mercado financeiro, é um
exemplo de "pai" dedicado a Kika, sua golden retriever de pêlo
bege claro. Meses atrás, entrou na
exclusivíssima joalheria Tiffany e
comprou uma coleira de prata
-que sai por uma bagatela de R$
1.220. Kika merece.
Comprada em 1999, quando
Kovarick morava no Colorado
(EUA), ela só atende a comandos
dados em inglês. Já viajou de
avião e de lancha. Em Aspen, famosa estação de esqui, hospedou-se num hotelzinho de animais
cinco estrelas. Freqüentou também Hampton, um dos balneários mais chiques da costa leste
americana. É, enfim, um cachorro
diferenciado.
As correntes de prata da Tiffany
têm bastante procura. Segundo
vendedores da loja do shopping
Iguatemi, em São Paulo, quem
pede o produto quase sempre diz
que tirou a idéia do filme "Legalmente Loira", no qual a atriz presenteia seu cão com um exemplar. A grife oferece ainda outros
mimos, como chaveiros de prata
em formato de osso para juntar à
coleira e identificar o cãozinho. O
preço? R$ 366, um pouco mais do
que um salário mínimo (R$ 260).
Solteira e sem filhos, a administradora de empresas Lúcia Naufal, 45, dedica boa parte de seu dia
a cuidar de Isabela, uma dachshund (o conhecido bassê) preta
de três anos e nove meses. Nenê,
como é chamada, viaja constantemente para uma fazenda. Para
sua segurança, vai dentro de uma
bolsa da grife francesa Louis Vuitton -o sac chien, R$ 4.600. Cachorra de fino trato, usa o perfume "Oh my dog". Francês, é claro.
"De resto, não tem frescura nenhuma", diz Lúcia.
O terapeuta corporal André
Kfouri, 43, que freqüenta academia, quis oferecer a mesma "saúde de ferro" a Bono, seu american
stafforshire terrier (espécie de pitbull) de músculos saltados e dentes afiados. Leva o animal ao
Cãotryclub duas vezes por semana para aulas de natação -R$ 25
por hora. Depois de uma hora na
água, Bono ainda tem energia para correr na esteira.
Mas nem todo totó que aparece
por lá é atleta. "Tem madame que
não anda com seu cachorro e traz
para cá reclamando que o bichinho está obeso, pedindo ajuda para queimar umas calorias", conta
o adestrador Márcio Freire.
Com tanta procura, o mercado
brasileiro de produtos e serviços
de animais domésticos está em
plena expansão. Em 2003, donos
de cães e gatos movimentaram
R$ 14 bilhões, segundo estatísticas
dos fabricantes de ração. E a fatia
de luxo desse mercado comemora o crescimento.
"Lançamos uma linha de muffins salgados e tortinhas com geléia de damasco, kiwi e goiaba para cachorros", diz Ângelo Carotta,
dono da Panetteria di Canni.
No Natal passado, vendeu 10
mil panetones caninos. Neste ano,
vai produzir o dobro. O mimo, de
100 gramas, custa R$ 10. "Mas o
preço não afasta o cliente AA, que
por amor paga qualquer valor."
Em São Paulo, onde estima-se
que haja 1,5 milhão de cães, eles
nunca foram tão bem tratados.
Até a butique Daslu, reduto dos
endinheirados, rendeu-se ao
mundo animal. Na Daslulu, criada há dois anos, há camas acolchoadas (R$ 198), coleiras de couro, bandanas e brinquedos.
Para os cãezinhos doentes, há
tratamentos com terapias alternativas. Na clínica da veterinária
Daionety Pereira, há sessões de
acupuntura e cromoterapia. Uma
consulta sai por R$ 60.
"Quem tem um cão bonito não
tem vergonha de mostrá-lo em
público. Isso melhora até o humor dos donos e sua relação afetiva com o animal", diz o veterinário Edgard Brito, que atende
clientes famosos, como os apresentadores Fausto Silva, Eliana e
Jô Soares. "Beleza", sentencia, "é
fundamental até para um cachorro." E, ao que parece, para os donos também.
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