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DESIGUALDADE
Atuação de movimentos sociais eleva qualidade de vida na região, mas não a ponto de atingir nível satisfatório
Zona leste melhora dentro da exclusão
DA REPORTAGEM LOCAL
De um lado, um conjunto habitacional de 200 casas bem pintadas e cuidadas, construídas em mutirão, cercado por hospital, escola, ponto de ônibus e campo de
futebol. Do outro, uma favela vizinha e a ameaça constante de assaltos, cujos produtos vão alimentar o tráfico de drogas local.
A situação do conjunto Miguel
Ackel, em São Miguel, simboliza o
processo pelo qual alguns distritos da zona leste de São Paulo passaram na última década. As melhorias, alcançadas em grande
parte graças à atuação dos movimentos sociais da região, conseguiram diminuir o índice de exclusão, mas não foram suficientes
para tornar a população incluída.
Seis dos dez distritos paulistanos que mais melhoraram entre
1991 e 2000 estão na zona leste.
Todos tiveram maior avanço no
índice de autonomia (que reúne
parâmetros de renda e emprego),
mas ainda estão abaixo da linha
de inclusão. É o caso de São Miguel, Vila Formosa, Vila Matilde,
Parque do Carmo, São Mateus e
Ermelino Matarazzo.
"Ainda falta muito, mas, se não
fosse a comunidade organizada, a
situação estaria bem pior. O pouco que se conseguiu foi com a luta
dos movimentos sociais. Nesse
ponto, a zona leste é exemplo para
as outras regiões da cidade", afirma Zorilda Maria dos Santos, do
Fórum de Mutirões de São Paulo.
"Com certeza a região colhe hoje os frutos de uma movimentação forte que começou lá há mais
de dez anos", afirma Dirce Koga.
O Miguel Ackel é um exemplo.
Para terminar o conjunto, Zorilda
conta que foram necessários 12
anos e muitas manifestações exigindo dos órgãos oficiais a infra-estrutura necessária às famílias
que trabalharam sábados e domingos na construção das casas.
"Muitas vezes pensávamos em
desistir e voltar a pagar aluguel
em algum lugar muito pior. Só o
apoio do grupo é que mantinha
nossa empolgação", diz a cabeleireira Edna Lúcia da Silva Peixinho, 44, hoje tesoureira da associação que administra o conjunto.
A filha dela, Cintia Lúcia, 19, tinha dez anos quando o mutirão
começou e acompanhava a mãe
nos fins de semana. Hoje, mãe de
Karen, 4, Cintia já faz parte de um
grupo que deve começar ainda
neste ano um outro mutirão em
Guaianazes (também na zona leste). "E vamos terminar nossas casas em menos tempo", brinca.
Dirce ressalta, entretanto, que a
melhora nos distritos se deveu
também às facilidades de transporte trazidas pelo metrô e à proximidade com regiões mais ricas, como o Tatuapé. O maior exemplo da "boa influência" é a Vila
Formosa, que quase alcançou o índice de inclusão.
(MARIANA VIVEIROS)
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