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ENTREVISTA
Estudo prevê explosão de doenças do coração
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Cerca de 600 crianças cariocas
foram acompanhadas e submetidas a exames médicos ao longo de
dez anos por uma equipe da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Agora, quando estão com 22 anos em média, constatou-se que a maioria desses jovens já forma população de risco
para o coração: mais de um quinto está acima do peso, quase 20%
têm hipertensão, cerca de 40% fumam e muitos têm colesterol elevado e não fazem exercícios.
O "Estudo do Rio de Janeiro" foi
coordenado por Airton Brandão
e será apresentado no 57º Congresso da Sociedade Brasileira de
Cardiologia, que começou ontem
em São Paulo. "São números altíssimos para uma população que
poderia estar absolutamente saudável", diz Antonio Carlos Carvalho, professor da Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp) e
presidente do congresso. A pesquisa "é um indicador de que estamos criando um caldo de cultura para uma epidemia de doenças
cardiovasculares", diz Carvalho.
Salim Yusuf, da Universidade
MacMaster, no Canadá, traz outra pesquisa preocupante. Dentro
de 15 anos, por conta dos hábitos
de vida, os países em desenvolvimento estarão vivendo uma explosão de doenças do coração.
O congresso reúne neste ano
cerca de 8.000 médicos em busca
de reciclagem, de novas pesquisas
e procedimentos. Uma novidade,
por exemplo, é a substituição do
cateterismo por uma técnica de
tomografia. O cateterismo passaria a ser usado para tratamento.
Abaixo, trechos da entrevista
que Carvalho concedeu:
Folha - De acordo com os estudos, as pessoas não estão cuidando
do coração. É isso mesmo?
Antonio Carlos Carvalho - Vinte
anos atrás, as doenças cardiovasculares eram a terceira causa de
morte no país, hoje são a primeira. Entre os 1.021 trabalhos científicos apresentados ao congresso,
muitos tratam da prevenção e das
consequências dessas doenças. O
que se constata é que é preciso
agir antes que as pessoas adotem
práticas prejudiciais à saúde, pois
mudá-las fica difícil. Ninguém
acredita que os hábitos de hoje terão consequências daqui a 15 ou
20 anos. Só os atos de não fumar,
de caminhar e de manter o peso
reduzem muito os riscos futuros.
Folha - E o colesterol do brasileiro, como vai?
Carvalho - Cerca de 40% dos
adultos estão com o colesterol alterado, ou seja, com o LDL (mau
colesterol) acima de 120 mg/dl.
Esse resultado aparece num estudo feito pela Sociedade Brasileira
de Cardiologia com 82 mil moradores de médias e grandes cidades. A pesquisa mostra que quase
metade da população adulta brasileira tem um fator de risco grave
para doenças coronarianas, que é
o colesterol elevado. Nos EUA,
35% a 37% dos adultos têm o colesterol alterado.
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