São Paulo, domingo, 22 de setembro de 2002

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Plantas originais forravam chão de arquibancada

DA REPORTAGEM LOCAL

A epopéia da construção da catedral foi revivida em sua primeira reforma, que impôs desafios a engenheiros e arquitetos. Cerca de 150 operários trabalharam nas obras. Encontrar as plantas originais de Maximiliano Hell tornou-se o primeiro impasse. Os documentos foram descobertos, ao acaso, embaixo da arquibancada do coro, forrando o chão.
"Era um vão onde ficava o entulho da igreja. Quando começamos a remover esse suposto lixo, achamos uma cadeira do século 18. Falei: "Ôpa, vamos com cuidado'", diz o arquiteto Paulo Bastos.
Antes de definir os princípios da restauração, houve um debate técnico.
A tese central era não reproduzir fielmente o projeto original. "Até porque você impede que as pessoas conheçam o percurso histórico da construção", diz Bastos.
O arquiteto era favorável a uma interferência ousada. O primeiro desenho que fez propunha as 14 torres da catedral em cristal azul.
De acordo com o arquiteto, dom Claudio Hummes, cardeal arcebispo de São Paulo, não o aprovou, preferindo o projeto que propunha a conclusão da catedral como havia sido desenhada.
Terminada a discussão, apareceu outro desafio: a catedral tem fundação rasa, sem alicerce. O solo da Sé é argiloso. Devido a isso, a igreja afundou ao longo dos anos e teve paredes trincadas.
Nenhum peso adicional poderia ser instalado sobre a igreja. Caso optassem por fazer as torres de concreto armado revestido de granito, seria um desastre no futuro.
A solução foi utilizar uma argamassa especial, chamada "glass reinforced concret", de fibra de vidro. A estrutura foi feita de aço.
Durante meses, os técnicos trabalharam em fôrmas com os desenhos de Hell. Os testes, feitos nas alturas, eram seguidos de monitoramento diário das trincas.
"A Sé foi uma experiência única", diz a engenheira Maria Aparecida Soukef Nasser, 42, da Concrejato.
Tanto Bastos como Maria Aparecida são experientes em restaurar prédios históricos. Ele foi responsável pela reforma da igreja de São Cristóvão, na Luz, na região central da capital paulista. Ela, pela obra do viaduto Santa Ifigênia, também no centro.
As torres que faltavam eram o grande problema da catedral. No lugar onde haviam sido previstas, ficaram buracos. A água da chuva entrava direto para a igreja.
"Para dar conta, cada andaime foi pensado milimetricamente. O desafio, acrobático, era conseguir chegar no alto", diz a engenheira.


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