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Plantas originais forravam chão de arquibancada
DA REPORTAGEM LOCAL
A epopéia da construção da catedral foi revivida em sua primeira reforma, que impôs desafios a engenheiros e arquitetos. Cerca de 150 operários trabalharam nas obras. Encontrar as plantas originais de Maximiliano Hell tornou-se o primeiro impasse. Os documentos foram descobertos, ao acaso, embaixo da arquibancada do coro, forrando o chão.
"Era um vão onde ficava o entulho da igreja. Quando começamos a remover esse suposto lixo, achamos uma cadeira do século 18. Falei: "Ôpa,
vamos com cuidado'", diz o arquiteto Paulo Bastos.
Antes de definir os princípios da restauração, houve um debate técnico.
A tese central era não reproduzir fielmente o projeto original. "Até porque você impede
que as pessoas conheçam o
percurso histórico da construção", diz Bastos.
O arquiteto era favorável a
uma interferência ousada. O
primeiro desenho que fez propunha as 14 torres da catedral
em cristal azul.
De acordo com o arquiteto,
dom Claudio Hummes, cardeal arcebispo de São Paulo,
não o aprovou, preferindo o
projeto que propunha a conclusão da catedral como havia
sido desenhada.
Terminada a discussão, apareceu outro desafio: a catedral
tem fundação rasa, sem alicerce. O solo da Sé é argiloso. Devido a isso, a igreja afundou ao
longo dos anos e teve paredes
trincadas.
Nenhum peso adicional poderia ser instalado sobre a igreja. Caso optassem por fazer as
torres de concreto armado revestido de granito, seria um desastre no futuro.
A solução foi utilizar uma argamassa especial, chamada
"glass reinforced concret", de
fibra de vidro. A estrutura foi
feita de aço.
Durante meses, os técnicos
trabalharam em fôrmas com os
desenhos de Hell. Os testes, feitos nas alturas, eram seguidos
de monitoramento diário das
trincas.
"A Sé foi uma experiência
única", diz a engenheira Maria
Aparecida Soukef Nasser, 42,
da Concrejato.
Tanto Bastos como Maria
Aparecida são experientes em
restaurar prédios históricos.
Ele foi responsável pela reforma da igreja de São Cristóvão,
na Luz, na região central da capital paulista. Ela, pela obra do
viaduto Santa Ifigênia, também
no centro.
As torres que faltavam eram
o grande problema da catedral.
No lugar onde haviam sido
previstas, ficaram buracos. A
água da chuva entrava direto
para a igreja.
"Para dar conta, cada andaime foi pensado milimetricamente. O desafio, acrobático, era conseguir chegar no alto", diz a engenheira.
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