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Prefeito culpa imigrante por crimes
COLUNISTA DA FOLHA
O envolvimento de brasileiros
em crimes tornou-se assunto tão
relevante em certas cidades japonesas que deu origem até ao surgimento do que poderia ser considerado o Le Pen japonês, o prefeito de Oizumi, Hiroshi Hasegawa.
Jean-Marie Le Pen é o xenófobo
líder da extrema-direita francesa,
que faz campanhas eleitorais acusando os imigrantes por todos os
males da França, em especial a
criminalidade.
Hasegawa, no ano retrasado,
usou a mesma técnica e se elegeu.
Agora, em entrevista ao "Tudo
Bem", o prefeito voltou ao ataque,
ao dizer que "os brasileiros que vivem em Oizumi têm gerado problemas como a criminalidade,
inadimplência no pagamento de
seguros e imposto de renda, e que
desrespeitam regras de convívio
social, como despejar de forma
errada o lixo urbano".
Adaptação difícil
Justa ou injusta a crítica, Hasegawa toca, de todo modo, em alguns pontos centrais da difícil
adaptação dos nipo-brasileiros à
terra de seus pais e avós.
"Convívio social", por exemplo.
O Japão é uma sociedade conservadora, carregada de normas que
só os nativos entendem.
Curvar-se, por exemplo, para
cumprimentar alguém, exige um
determinado ângulo, tanto maior
quanto mais importante for o
cumprimentado.
Falar baixo é outro exemplo.
Os nipo-brasileiros falam tão alto quanto os brasileiros em geral e
não adquiriram o hábito da curvatura. Não chegam a ser criminosos por isso.
Mas que há um problema de
adaptação, ninguém nega.
"Maior até do que em outras comunidades de brasileiros no exterior", depõe Francisco Carvalho
Chagas, o diplomata que acompanha a situação dos dekasseguis.
Maior pela simples razão de que
o japonês pode tolerar que um
ocidental não fale a língua nem se
curve para cumprimentá-lo. Um
norte-americano pode entender
que um mineiro de Governador
Valadares tenha dificuldades com
o inglês.
O que o japonês não entende é
que alguém com a fisionomia
igual à dele, com sobrenome de
japonês, não fale japonês nem siga os costumes. Uma pesquisa feita pela internet pelo "International Press" mostrou que 66% dos
dekasseguis não seguem as tradições do Japão na passagem do
ano. Outros 19% nem sequer as
conheciam.
Também no quesito criminalidade é preciso relativizar o termo.
Mesmo o prefeito Hasegawa cita
"acidentes de trânsito" como o
crime que mais tem crescido entre nipo-brasileiros.
"Há casos que, no Brasil, dariam
no máximo uma reprimenda e
que, aqui, dão cadeia", diz Carvalho Chagas.
(CR)
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