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São Paulo, domingo, 23 de fevereiro de 2003

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Prefeito culpa imigrante por crimes

COLUNISTA DA FOLHA

O envolvimento de brasileiros em crimes tornou-se assunto tão relevante em certas cidades japonesas que deu origem até ao surgimento do que poderia ser considerado o Le Pen japonês, o prefeito de Oizumi, Hiroshi Hasegawa.
Jean-Marie Le Pen é o xenófobo líder da extrema-direita francesa, que faz campanhas eleitorais acusando os imigrantes por todos os males da França, em especial a criminalidade.
Hasegawa, no ano retrasado, usou a mesma técnica e se elegeu.
Agora, em entrevista ao "Tudo Bem", o prefeito voltou ao ataque, ao dizer que "os brasileiros que vivem em Oizumi têm gerado problemas como a criminalidade, inadimplência no pagamento de seguros e imposto de renda, e que desrespeitam regras de convívio social, como despejar de forma errada o lixo urbano".

Adaptação difícil
Justa ou injusta a crítica, Hasegawa toca, de todo modo, em alguns pontos centrais da difícil adaptação dos nipo-brasileiros à terra de seus pais e avós.
"Convívio social", por exemplo. O Japão é uma sociedade conservadora, carregada de normas que só os nativos entendem.
Curvar-se, por exemplo, para cumprimentar alguém, exige um determinado ângulo, tanto maior quanto mais importante for o cumprimentado.
Falar baixo é outro exemplo.
Os nipo-brasileiros falam tão alto quanto os brasileiros em geral e não adquiriram o hábito da curvatura. Não chegam a ser criminosos por isso.
Mas que há um problema de adaptação, ninguém nega. "Maior até do que em outras comunidades de brasileiros no exterior", depõe Francisco Carvalho Chagas, o diplomata que acompanha a situação dos dekasseguis.
Maior pela simples razão de que o japonês pode tolerar que um ocidental não fale a língua nem se curve para cumprimentá-lo. Um norte-americano pode entender que um mineiro de Governador Valadares tenha dificuldades com o inglês.
O que o japonês não entende é que alguém com a fisionomia igual à dele, com sobrenome de japonês, não fale japonês nem siga os costumes. Uma pesquisa feita pela internet pelo "International Press" mostrou que 66% dos dekasseguis não seguem as tradições do Japão na passagem do ano. Outros 19% nem sequer as conheciam.
Também no quesito criminalidade é preciso relativizar o termo. Mesmo o prefeito Hasegawa cita "acidentes de trânsito" como o crime que mais tem crescido entre nipo-brasileiros.
"Há casos que, no Brasil, dariam no máximo uma reprimenda e que, aqui, dão cadeia", diz Carvalho Chagas. (CR)


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