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TRANSPORTE
Leonardo Capuano vendeu uma empresa a acusado de estelionato e outra a ex-fiscal que vivia em casa alugada
Empresário quebra 4 viações em 2 anos
CHICO DE GOIS
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
No mesmo mês em que vendeu
a empresa de ônibus Cidade Tiradentes para um uruguaio acusado
de estelionato e um eletricista que
já havia morrido, Leonardo Lassi
Capuano repassou outra viação, a
Parque Ibirapuera Transportes,
para um ex-fiscal da viação Santo
Amaro, da qual também foi dono
e que fechou as portas em 2002.
O suposto "comprador" vivia
de aluguel, na época da transação,
em uma rua sem pavimentação,
com esgoto a céu aberto, em Carapicuíba (Grande SP). E a situação financeira da Parque Ibirapuera era parecida com a da Cidade Tiradentes: acumulava dívidas
e estava quase falida.
Nos últimos seis meses de 2002,
Capuano e seu sócio João Tarcísio
Borges "quebraram" ainda mais
duas empresas de ônibus: a Santo
Amaro, também de São Paulo, e a
Morumbi, de Campinas.
As três primeiras pertenciam,
antes, à família Constantino, uma
das maiores no setor de transporte, dona da companhia aérea Gol.
Capuano, que foi executivo do
grupo Constantino, criou a Parque Ibirapuera em 17 de dezembro de 2001, com um capital social
de R$ 50 mil -menos de metade
de um ônibus novo. Em 6 de novembro de 2002, os sócios repassaram a empresa para Messias
Fernandes e Sebastião Fernandes.
Este último residiria na rua Cambé, em Carapicuíba.
A Folha esteve na quinta-feira
no local. No endereço de Sebastião, cujo sobrenome verdadeiro é
Bernardes, e não Fernandes, a dona do imóvel, Vilma Dutra, informou que ele foi seu inquilino durante uma década, mas se mudou
há dois anos.
Segundo ela, Sebastião era um
bom pagador, mas não tinha dinheiro para adquirir uma empresa de ônibus. Segundo a Junta Comercial, a participação de Sebastião na sociedade era de R$ 2.500.
Messias Fernandes respondia por
R$ 47,5 mil.
As três empresas de Capuano
em São Paulo chegaram a ser citadas, em novembro de 2002, pelo
militante do PT William Ali
Chaim, que fez acusações de repasses irregulares de verba a empresas de ônibus pela prefeitura.
Chaim dizia que Carlos Zarattini, então secretário dos Transporte, havia dado irregularmente R$
665 mil às viações Ibirapuera, Cidade Tiradentes e Santo Amaro
para que elas pudessem pagar salários atrasados. Zarattini negou
irregularidades nos repasses.
A situação nessas três empresas
não estava bem havia alguns meses e, em junho de 2002, a prefeitura interveio nas viações. Mesmo
assim, em 6 de agosto, a Parque
Ibirapuera assinou um novo contrato de emergência com a
SPTrans. Uma semana depois, os
motoristas assumiram a administração da Ibirapuera e da Santo
Amaro porque continuavam sem
receber salários. As duas tinham
uma frota operacional de 219 veículos e 1.131 motoristas.
Essas três empresas de ônibus
de São Paulo passaram a ser controladas por Capuano e Borges
nos últimos dois anos. Segundo
diretores do sindicato dos condutores, eram consideradas viações
equilibradas, sem problemas operacionais graves nem atraso de
pagamento dos trabalhadores.
O período em que elas "quebraram" e foram vendidas coincide
com a crise financeira da viação
Morumbi, de Campinas, também
administrada pelos dois empresários, que transportava 10% dos
passageiros da região e que foi entregue à VBTU, líder do setor no
município, em dezembro de 2002.
Segundo Paulo Barddal, diretor
de comunicação da Transurc
(sindicato das empresas de ônibus de Campinas), a Morumbi
acumulava dívidas já vencidas superiores a R$ 1 milhão.
A VBTU decidiu adquiri-la para
evitar um colapso no sistema de
transporte local. A negociação,
porém, não envolveu valores: José
Ricardo Caixeta, da VBTU, apenas assumiu as dívidas da viação
Morumbi. Segundo o Transurc, a
empresa renegociou as dívidas, e
hoje opera normalmente.
A Folha não conseguiu localizar
Leonardo Capuano. A SPTrans
informou, através de sua assessoria de imprensa, que a participação da Ibirapuera no contrato
emergencial foi aceita pelo consórcio que atuava na área seis.
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