|
Próximo Texto | Índice
CRIME ORGANIZADO
Nova liderança, que busca reerguer a facção, substitui assaltos como fonte de renda
Tráfico de drogas mantém PCC em pé
ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
A facção criminosa que pode estar por trás do assassinato do juiz-corregedor Antonio José Machado Dias, 47, o PCC (Primeiro Comando da Capital), passa por um
processo de transformação semelhante ao que ocorreu com o Comando Vermelho, do Rio, na metade dos anos 80: o tráfico de drogas começa a substituir os assaltos
como fonte principal de renda.
Em comum, CV e PCC nasceram da associação entre presos, a
primeira em 1979 -em Ilha
Grande (Rio)- e a outra em 93
-Anexo de Taubaté. A facção
paulista usa o lema do CV e tem
estatuto parecido. De início, fizeram rebeliões e assassinaram inimigos. Nas ruas, como eram em
maioria assaltantes, partiram para roubos e sequestros.
Ambas perderam integrantes
na primeira expansão, em tiroteios com a polícia e em disputas
com rivais. A partir de 85, porém,
a nova geração no poder levou o
CV para o tráfico, atividade considerada menos arriscada e mais lucrativa. Ocuparam os morros.
O PCC ainda engatinha se comparado com o poder paralelo
montado no Rio pelo CV. O isolamento de líderes desde maio de
2001 em presídios com bloqueadores de celular, como em Avaré e
em Presidente Bernardes, desarticulou a facção, mas o comando
sobreviveu usando familiares e
advogados como mensageiros.
Eles estão menos atuantes e migram para o tráfico, dizem os promotores Roberto Porto, 34, e
Márcio Sérgio Christino, 39, do
Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado.
"Eles estão se voltando para o tráfico até pelas características dos
que têm o poder", diz Porto.
De acordo com a polícia, o assaltante Marcos Willians Herbas
Camacho, o Marcola, atual número um do PCC, tem um irmão traficante foragido, Alejandro Herbas Camacho, seu braço operacional. Abaixo dele está Sandro
Henrique da Silva, o Gulu, também detido, acusado de manter
várias "bocas de droga" no litoral.
Marcola nega ser da facção.
A descoberta mais recente dos
novos negócios do PCC ocorreu
no mês passado. O delegado Rui
Ferraz Fontes, do Deic (Departamento de Investigações sobre o
Crime Organizado), prendeu o
presidente da Torcida Sangue Jovem do Santos, Ricardo Przygoda, 29, acusado de ter ligações
com o traficante Ângelo Canuto
da Silva, 29, homem da organização que comandaria da cadeia,
por celular, a venda de drogas na
Baixada Santista. Na operação, a
polícia disse ter apreendido 18,6
kg de cocaína -R$ 270 mil.
Przygoda nega ser traficante.
"O PCC sempre atuou em todas
as áreas. Não dá para dizer se o
tráfico é o que mais os financia
agora", diz o delegado Fontes.
Um documento reservado do
CRP (Centro de Reabilitação Penitenciária de Presidente Bernardes) revelou, no ano passado, que
os detentos do PCC recém-isolados tramavam criar uma nova organização, com novo nome e voltada para a venda de drogas, como fez no passado o CV.
Mas os idealizadores do plano,
José Márcio Felício, o Geleião, e
César Augusto Roris da Silva, o
Cesinha, acabaram jurados de
morte. Uma série de atentados ordenada por eles provocou repressão policial, no final do ano passado, e mais isolamento dos líderes.
Pela primeira vez, alguém da
cúpula entregou os demais. Geleião disse à polícia que a facção
movimentava cerca de R$ 700 mil
por mês com a venda de drogas
na região de Ribeirão Preto e na
Baixada Santista. Os carregamentos vinham da Bolívia para abastecer as duas regiões, uma de Geleião e a outra de Cesinha -hoje
sob o comando de Gulu.
"A situação do Rio é bem diferente da de São Paulo por causa
da geografia. Não há morros aqui
para serem dominados", diz o
promotor Márcio Christino.
Da prisão, o PCC organizou fugas, resgates e ações criminosas,
segundo a polícia. Uma delas pode ter sido a emboscada que matou o juiz-corregedor de Presidente Prudente (565 km de SP),
com três tiros, no último dia 14.
Para a Promotoria, apenas o
monitoramento constante, o isolamento dos líderes e processos
contra eles pode frear o crescimento dessas organizações. Em
menos de três anos, o PCC está
em sua terceira geração no poder.
Desde o ano passado, as polícias
do Rio e de São Paulo investigam
uma suposta aliança entre o Comando Vermelho e o Primeiro
Comando da Capital.
Próximo Texto: PCC mantém ação em "novo Carandiru" Índice
|