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DANUZA LEÃO
A guerra
Minha geração não viveu
a Segunda Guerra Mundial; durante a do Vietnã, éramos
jovens e como jovens estávamos
muito ocupados com muitas outras coisas, por isso não acompanhamos o passo a passo que antecedeu a guerra.
Apesar disso, tomamos partido
-o certo.
A guerra atual, se fosse um filme, seria sobre o cinismo dos poderosos e sua capacidade de distorcer as verdades, mentindo descaradamente; a visão dos falcões
de Bush -com seus olhinhos pequenos, juntos e inexpressivos,
aquela turma dura que se reúne
para rezar antes de planejar a
violação das leis- e a imagem
dos iraquianos vistos pela televisão deixando as cidades para escapar da matança, tão pobres e
desamparados quanto os habitantes de nossas mais pobres regiões, levando tudo o que possuem na vida em duas sacolas ou
em pequenas caixas, tem sido
desoladora.
Não dá para não pensar: como
deve ser a chegada de Donald
Rumsfeld em casa?
Será que passa a mão na cabeça
do filho e ensina, como todo pai,
que as leis existem, que temos a
obrigação de cumpri-las, que a
compaixão pelos inocentes e indefesos, mesmo sendo de um país
longínquo, é obrigação, sobretudo, dos que estão no poder?
Aquele orangotango, o porta-voz Ary Fleischer, me intriga. Será
que sua mulher, depois de vê-lo
na televisão, recebe o marido carinhosamente, com um abraço e
um beijo, põe um CD para tocar e
diz que teve saudades dele? E os
generais, os criativos generais que
deram nome a algumas divisões
que fazem estremecer até os corações mais duros, como "Operação
Decapitação", "Ratos do Deserto", "Águias que Gritam" e a mais
apavorante, a "Delta"? Desta fazem parte soldados treinados há
anos, "todos os minutos dos sete
dias da semana", para caçar e
matar Saddam Hussein, seus filhos e as lideranças militares do
Iraque. Mas isso não é assassinato? É. E então? Pois é. Além disso,
fazem escuta telefônica, e a imprensa americana -tirando alguns comentaristas- faz vista
grossa sobre todos esses crimes.
Mas afinal, que gente é essa? E
Condoleezza Rice, o que a fez tão
dura e tão cruel? Aquele professor
de Viena -Freud- faria esse
diagnóstico com um pé nas costas, ah, isso faria.
Agora o chefão, Bush. Para
quem ignora: o presidente é alcoólatra e deixou de beber depois
de frequentar o AA -Alcoólatras
Anônimos. Segundo o AA, os dependentes de álcool, mesmo que
passem o resto da vida sem tocar
em bebida, continuam sendo alcoólatras, pois o alcoolismo é uma
doença -como o diabetes, por
exemplo. Alguns de seus sintomas
são a síndrome da grandiosidade
e da onipotência, e o dependente
deve, para o resto da vida, frequentar as reuniões com uma certa regularidade. É sabido que
Bush nunca mais foi a uma dessas reuniões e pode estar passando por uma fase conhecida como
"porre seco", que é se comportar
como se estivesse alcoolizado,
mesmo sem beber uma só gota.
Coitada da mulher do Bush. Coitado do mundo.
O papa foi -sem trocadilho-
divino, quando pediu que o presidente Bush não falasse mais em
nome do Senhor; a nós, pessoas
comuns, só resta sofrer diante da
televisão, com a consciência de
que estamos sendo testemunhas
de um momento histórico -apesar de lamentável- que poderá
transformar o mundo.
Como já passamos da idade de
ir para a porta da embaixada
americana queimar bandeiras,
podemos nos revoltar tomando
uma atitude que não vai resolver
nada, mas que não deixa de ser
uma atitude.
Pode ser infantil, mas Coca-cola
nunca mais.
E-mail - danuza.leao@uol.com.br
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