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DANUZA LEÃO
Segredos
Dentro de cada coração
há um segredo que jamais
será dito à melhor amiga, nem ao
padre nem ao analista. Não que
seja uma coisa feia, mas é alguma
coisa que não poderá, jamais, ser
dividida com ninguém, uma coisa só sua.
Pode se tratar de um fato que
aconteceu, uma linda história de
amor ou apenas um delírio de
imaginação, mas dele ninguém
vai saber, nunca. Virou uma mania contar tudo o que nos acontece; por não conseguir guardar um
segredo ou para pedir uma opinião, nem que seja para fazer
exatamente o contrário. Mas as
sérias de verdade, que vêm lá do
fundo, essas não se conta.
A gente tem a mania de achar
que certas coisas só acontecem
com mulheres muito bonitas e homens muito interessantes: quanto
engano. Na vida da mais humilde
doméstica da periferia podem ter
acontecido coisas que fariam inveja à mais bela e cobiçada mulher, que talvez por cuidar tanto
de sua beleza e de sua elegância
nunca teve tempo de prestar atenção a seu próprio coração.
Quando estiver num lugar
cheio de gente, comece a prestar
atenção nas pessoas, uma atenção diferente, cuidadosa. Vai perceber que a mais escandalosamente linda das lindas -aquela
cujo decote vai até o umbigo e cuja fenda da saia vai até a cintura- não está vestida dessa maneira para verdadeiramente conquistar um homem, mas para
conquistar todos eles; e todos, nesse caso, quer dizer nenhum.
Mas em algum canto dessa festa
vai haver uma mulher normal, de
uma idade mais pra lá do que pra
cá, conversando com uma amiga;
uma daquelas mulheres que se
olha e não se pensa nada, a não
ser que ela namorou, noivou, casou, teve filhos, foi fiel e que sua
vida foi de um tédio atroz. Pois é
aí que pode -e geralmente está- o engano.
Essas devem ter tido desejos
intensos e inconfessáveis e ter vivido grandes e trepidantes histórias de amor; e quanto mais castas elas foram, mais paixões secretas tiveram.
Vamos deixar bem claro que
desejar não é ter cometido nenhuma infidelidade, por isso nada
mais natural que isso tenha acontecido com nossas mães, nossas
tias mais castas, nossas avós. Talvez, na época pré-Freud, elas não
conseguissem identificar o que estava acontecendo: o medo que alguns homens lhes causavam, o
pânico de ficar sozinha na sala
com alguns deles e a aversão intensa que outros lhes provocavam, o que, visto sob uma ótica
mais moderna e esclarecida,
poderia ser medo não deles, mas
do desejo delas próprias; medo de
se atirar no pescoço de um cunhado ou do filho do farmacêutico,
que pela idade poderia ser seu
próprio filho.
Quando estiver numa daquelas
reuniões de família com aquelas
tias que nunca perderam uma
missa em toda a sua existência,
ofereça uma bebidinha doce
-um licor- e puxe pela língua.
Ela não vai dizer tudo, até porque
não sabe direito, mas não vai ser
difícil para você desvendar os
mistérios que se escondem naquele coração. E se quiser ser bem
pérfida, puxe pela vida das outras, procure -sutilmente, claro- saber dos podres da família.
Ou vai dizer que na sua nunca teve nenhum?
E quando olhar para sua avó,
tão distinta, com os cabelos tão
brancos, com um ar tão distante,
imagine as loucuras que não
devem ter passado pela cabeça
dela -ou que talvez estejam passando ainda.
Eu tenho o meu segredo. Quem
não tem?
E-mail - danuza.leao@uol.com.br
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