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SAÚDE
Distúrbio é caracterizado por movimentos bruscos involuntários; ocorrência é mais comum entre as mulheres
Pernas inquietas podem indicar síndrome
DA REPORTAGEM LOCAL
Durante o dia, o aposentado
Cláudio Contesini, 64, sentia uma
vontade incontrolável de mexer
as pernas. Eram movimentos
bruscos, repetidos e que duravam
alguns segundos. À noite, sua mulher se queixava de que ele lhe dava pontapés enquanto dormia.
Foi assim durante 18 anos.
Há sete meses, Contesini encontrou explicação para o problema
que tanto o incomodava: síndrome das pernas inquietas (SPI),
um distúrbio que atinge até 10%
da população mundial com mais
de 25 anos.
A síndrome se caracteriza, principalmente, pela necessidade de
movimentar os membros inferiores. A pessoa sente formigamento, câimbras, puxões, coceiras ou
queimação nas pernas, e o alívio
só vem com o movimento. O problema se repete durante o sono e,
em razão da noite maldormida, a
pessoa acorda cansada, irritada e
sonolenta.
Embora tenha sido descrita há
quase quatro séculos, a síndrome
é desconhecida por muitos médicos. O caso de Contesini, que havia passado por sete especialistas
antes de descobrir o motivo dos
movimentos incontroláveis, é um
bom exemplo.
Segundo o neurologista João
Carlos Papaterra Limongi, do
Hospital das Clínicas de São Paulo, é comum os pacientes relatarem uma verdadeira via-crúcis
por consultórios médicos até iniciarem o tratamento correto. "A
pessoa passa por ansiosa, sem paciência, nervosa. Não é um problema neurológico, tem causa
biológica", afirma.
A causa da síndrome ainda é
um enigma. Uma das hipóteses
mais prováveis é que o problema
esteja relacionado a uma falha na
função do neurotransmissor dopamina (um dos responsáveis pelas sensações de prazer e bem-estar). Por isso o tratamento mais
comum é com medicamentos que
regulam a função dopaminérgica.
Com o tempo, afirma o médico,
metade dos pacientes tende a piorar. Apresentam, por exemplo,
urgência de movimentar outras
partes do corpo. Já outros 15% parecem se curar espontaneamente.
O diagnóstico da síndrome é
baseado na história fornecida pelo paciente. Segundo a reumatologista Evelin Goldenberg, do
Hospital Israelita Albert Einstein,
é preciso investigar se o distúrbio
tem causa primária ou secundária. São indicados exames de dosagem de ferro, de ácido fólico, de
uréia e de creatina para verificar a
existência de doenças associadas.
A fibromialgia, a insuficiência
renal crônica, a artrite reumatóide
e outras inflamações musculares e
da articulação podem provocar
sintomas iguais aos da síndrome.
Ela afirma que o distúrbio atinge duas vezes mais mulheres do
que homens, especialmente aquelas que apresentam deficiências
de ferro e ácido fólico em razão de
dietas radicais ou da gravidez.
Segundo o neurologista Limongi, os pacientes, em geral, procuram um médico porque se constrangem com os movimentos involuntários ou por pressão do
cônjuge, que não agüenta mais
"apanhar" durante a noite.
Um dos instrumentos utilizados para fechar o diagnóstico da
síndrome é a polissonografia,
exame que registra o que acontece
durante o sono, como atividade
cerebral, movimentos oculares e
contrações musculares.
De acordo com Marco Túlio de
Mello, professor do Departamento de Psicobiologia da Unifesp
(Universidade Federal de São
Paulo), o exame indica o número
de movimentos e o período em
que eles ocorrem. Essas informações ajudarão o médico a definir o
tipo e a dosagem de medicamento
a serem indicados. Há drogas, por
exemplo, que atuam no início do
sono, e outras, no final.
Segundo ele, durante o sono, é
comum um outro distúrbio muito parecido com a SPI: o MPM
(Movimento Periódico dos Membros). A diferença é que os movimentos são ritmados e, em geral,
só ocorrem quando a pessoa está
dormindo. Já a síndrome pode
ocorrer durante o dia e os movimentos são aleatórios.
Cerca de 30% dos pacientes
com MPM também sofrem com
as pernas inquietas. Entre quem
tem SPI, 70% a 90% apresentam o
movimento periódico.
(CLÁUDIA COLLUCCI)
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